Dando continuidade às notícias relativas a II Jornada de Estudos sobre Ditaduras e Direitos Humanos, falaremos hoje sobre as atividades realizadas no primeiro dia do evento (24/04, quarta- feira), e apresentaremos a entrevista realizada com a participante Nôva Brando.
A partir das 13:30h demos inicio ao credenciamento, onde tivemos a oportunidade de ter o primeiro contato com os participantes, vindos de diferentes cidades, estados e universidades. Após o credenciamento, os presentes tiveram a oportunidade conhecer as dependências e espaços de guarda do acervo do Arquivo Público através de uma visita guiada realizada pela servidora Maria Lúcia. As 16h foi exibido o documentário O dia que durou 21 anos, que retrata as relações entre Brasil e Estados Unidos no contexto do golpe civil militar de 1964, explicitando as conexões entre presidentes, embaixadores, agentes da CIA e do Exército, e abordando a chamada Operação Brother Sam, através da qual os EUA apoiariam belicamente o golpe no Brasil caso houvesse resistência. A exibição do documentário e posterior debate, conduzido pela historiadora do APERS Clarissa Sommer, contou com a participação de muitos inscritos e já demonstrou o quanto seriam frutíferas as reflexões ao longo do evento.
As 19h teve início a solenidade de abertura da II Jornada, que contou com as presenças de Valter Amaral, Chefe de Gabinete da SARH, representando o Secretário Alessandro Barcellos; do Profº Dr. Luiz Alberto Grijó, representando o IFCH e o PPG em História da UFRGS; da Diretora do APERS, Isabel Oliveira Perna Almeida; do Profº Enrique Serra Padrós representando a coordenação do evento, e de Lilian Celiberti, ex-militante uruguaia do Partido da Vitória do Povo (PVP) sequestrada pela Operação Condor em Porto Alegre em 1978, que estando em Porto Alegre para outra atividade brindou aos presentes com sua saudação e apoio ao evento.
Na sequencia ocorreu a conferência Regime Pinochet (1973-1990): ditadura e terrorismo de estado no Chile, com a professora Dra. Verónica Valdívia Ortiz de Zarate, da Universidad Diego Portalles, em Santiago/Chile, e comentários do Profº Dr. Cesar Augusto Barcellos Guazzelli, da UFRGS. Verónica traçou um panorama muito rico a respeito do período Pinochet no Chile, abordando o projeto político, econômico e social da ditadura chilena para enquadrar, aterrorizar e amortecer a sociedade daquele país, que vinha caminhando a passos largos para o aprofundamento da democracia com participação popular durante o governo do então presidente Salvador Allende, que sofreu um golpe de Estado que ficou marcado na memória latino-americana. Já Guazzelli explicitou as intensas relações entre Brasil e Chile naquele contexto de golpes e Ditaduras de Segurança Nacional no Cone Sul, especialmente em relação às redes de solidariedade entre cidadãos destes países. Com certeza foi uma noite de muita informação, memória e história, que deverá abrir espaços para novas pesquisas na área!
E na busca por estreitar os laços com usuários do APERS e participantes da Jornada, apresentamos parte da entrevista com Nôva, graduada em História pela UFRGS, estudante de pedagogia na mesma universidade e recentemente também historiadora do APERS. Nôva apresentou o trabalho Memórias da ditadura militar — Índio Vargas e Jorge Fisher Nunes: os referenciais da resistência armada, durante o período da Ditadura Militar, vistas a partir das memórias de dois militantes de esquerda que atuaram no Rio Grande do Sul, e conversou conosco a respeito da experiência:
APERS: O que tu apresentaste na II Jornada de Ditaduras e Direitos Humanos?
Nôva: Meu trabalho refere-se à memória de dois militantes que atuaram no Rio Grande do Sul, na luta armada, ou melhor, aquilo a que chamamos luta armada, ações de expropriações bancarias e tentativas de sequestro. Os dois autores são Indio Vargas e Jorge Fisher Nunes. Através da memória deste dois militantes, procuro fazer referencia à esquerda armada e suas reivindicações para pegar em armas. Além disso a ideia de trabalhar com estes dois autores visa também dar voz às minorias não lembradas da ditadura militar. Esta apresentação resulta de um recorte do meu trabalho de conclusão de curso que fora realizado em 2007 e adaptado para a Jornada.
APERS: De que forma a participação no evento contribuiu para sua trajetória como pesquisadora?
Nôva: Estar no evento permitiu o dialogo com outros participantes, onde destaco a troca de informações com o “pessoal” do Paraná, que está pesquisando ditadura no interior do seu estado, procurando também dar voz às pessoas da vida cotidiana, para que estas possam falar de suas memórias a cerca do período ditatorial. Assim como os paranaenses, exite também no interior do Rio Grande do Sul pesquisadores que trabalham com a oralidade e memória, articulando-as com outros documentos, dando voz a resistência.
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