Hoje chegamos ao final das postagens sobre o CineDebate APERS – Memória e Direitos Humanos falando do documentário “Que bom te ver viva”. Este foi um dos primeiros filmes realizados no Brasil pós-abertura política que aborda a luta armada, a tortura e os assassinatos que houve durante a ditadura civil militar no Brasil. É uma película feita em 1989 por Lúcia Murat, realizada através de depoimentos reais de oito ex-presas políticas que participaram nas ações das organizações clandestinas de 1960/70 e que participaram da luta armada.
É um filme que trata a tortura a partir da perspectiva feminina, mostrando que elas sofreram violências sexuais, partos em detenção, partos depois de torturas e violências sexuais, e abortos por tortura e violências sexuais. A diretora mostrou que a tortura é uma experiência complexa e constrangedora que fica entranhada na mente e no corpo por toda a vida, impossível de esquecer. Enfim, é um filme que buscou compreender a conexão entre o passado e o presente, compreender como vivenciaram a tortura, como conseguiram sobreviver, e como conseguiram reorganizar suas vidas, reinserindo-se na sociedade brasileira
No CineDebate este filme foi escolhido e debatido por Nilce Azevedo Cardoso, ex-presa política oriunda do partido Ação Popular (AP), atualmente psicopedagoga, professora e militante na área de Educação e Direitos Humanos. A escolha deste documentário foi interessante por dois motivos, pelo menos: um pelo fato dele concluir um ciclo de debates iniciado pelo filme Em teu Nome, cujo tema central foi o exílio, passando pelo documentário O dia que durou 21 anos, que retratou centralmente o apoio norte-americano no golpe militar de 64, e pelo documentário Jango, que traz o protagonismo do povo brasileiro no período efervescente que antecedeu o golpe e segue conduzido a partir da atuação emblemática de João Goulart. Ou seja, nestes filmes a prática da tortura, que imperou durante o regime civil militar, foi abordada de forma superficial, não tendo a centralidade que teve no filme Que bom te ver Viva. Já o outro motivo pelo qual considerei interessante a escolha feita por Nilce foi que o protagonismo era das mulheres, como ela. Bela síntese!
Nilce finalizou sua abordagem buscando que o público refletisse. Fez então a “pergunta”: é possível esquecer a experiência da tortura? Ela cicatriza?
Acreditamos que ainda temos muito a pensar e debater a respeito desse período. E nesse intuito, contem com o APERS!
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