APERS? Presente, professor! – A Ditadura vista do lado de lá da fronteira: o mundo dos exílios

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2014.06.11 O Mundo dos Exílios

Hoje disponibilizamos a terceira proposta pedagógica do Projeto APERS? Presente, professor, que está inserida dentro do eixo temático A Resistência à Ditadura Civil-militar – das fontes arquivísticas para a sala de aula, 50 anos depois. Denominada de A Ditadura vista do lado de lá da fronteira: o mundo dos exílios, essa proposta tem como objetivo central, proporcionar uma reflexão acerca do exílio como a última forma de resistência, e muita vezes de sobrevivência, à ditadura e à repressão estatal imposta por ela. Para construí-la, a equipe do projeto utilizou como fonte um processo de indenização de um ex-preso político do período, João Carlos Bona Garcia. Acesse aqui o arquivo da proposta. Caso o professor tenha interesse em acessar uma cópia na íntegra do fonte utilizada na construção da proposta, clique aqui. Para acessar as propostas anteriores, clique aqui. O Arquivo deseja um bom trabalho professora e professor!

CineDebate APERS – Que bom te ver viva

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  Hoje chegamos ao final das postagens sobre o CineDebate APERS – Memória e Direitos Humanos falando do documentário “Que bom te ver viva”. Este foi um dos primeiros filmes realizados no Brasil pós-abertura política que aborda a luta armada, a tortura e os assassinatos que houve durante a ditadura civil militar no Brasil. É uma película feita em 1989 por Lúcia Murat, realizada através de depoimentos reais de oito ex-presas políticas que participaram nas ações das organizações clandestinas de 1960/70 e que participaram da luta armada.

  É um filme que trata a tortura a partir da perspectiva feminina, mostrando que elas sofreram violências sexuais, partos em detenção, partos depois de torturas e violências sexuais, e abortos por tortura e violências sexuais. A diretora mostrou que a tortura é uma experiência complexa e constrangedora que fica entranhada na mente e no corpo por toda a vida, impossível de esquecer. Enfim, é um filme que buscou compreender a conexão entre o passado e o presente, compreender como vivenciaram a tortura, como conseguiram sobreviver, e como conseguiram reorganizar suas vidas, reinserindo-se na sociedade brasileira

  No CineDebate este filme foi escolhido e debatido por Nilce Azevedo Cardoso, ex-presa política oriunda do partido Ação Popular (AP), atualmente psicopedagoga, professora e militante na área de Educação e Direitos Humanos. A escolha deste documentário foi interessante por dois motivos, pelo menos: um pelo fato dele concluir um ciclo de debates iniciado pelo filme Em teu Nome, cujo tema central foi o exílio, passando pelo documentário O dia que durou 21 anos, que retratou centralmente o apoio norte-americano no golpe militar de 64, e pelo documentário Jango, que traz o protagonismo do povo brasileiro no período efervescente que antecedeu o golpe e segue conduzido a partir da atuação emblemática de João Goulart. Ou seja, nestes filmes a prática da tortura, que imperou durante o regime civil militar, foi abordada de forma superficial, não tendo a centralidade que teve no filme Que bom te ver Viva. Já o outro motivo pelo qual considerei interessante a escolha feita por Nilce foi que o protagonismo era das mulheres, como ela. Bela síntese!

  Nilce finalizou sua abordagem buscando que o público refletisse. Fez então a “pergunta”: é possível esquecer a experiência da tortura? Ela cicatriza?

  Acreditamos que ainda temos muito a pensar e debater a respeito desse período. E nesse intuito, contem com o APERS!

CineDebate APERS – Jango

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     O documentário Jango, dirigido por Silvio Tendler, com narração de José Wilker, texto de Mauricio Dias e trilha sonora original de Milton Nascimento, exibe a trajetória pessoal de João Goulart, desde sua infância em São Borja, bem como sua vida política que se encerrou com sua deposição durante o Golpe de 1964. O filme conta também com depoimentos de pessoas ligadas a Jango como, Denize Goulart, filha do Ex-Presidente e Leonel Brizola, Ex-Governador do Rio Grande do Sul.

     Formado em Direito, Jango foi eleito Deputado Estadual em 1947, em 1950 Deputado Federal e, em seguida, Presidente Nacional do PTB. Com objetivo de injetar “sangue novo” na política brasileira, em 1953 Getúlio Vargas escolheu Jango para ser Ministro do Trabalho. Quando Juscelino Kubitschek foi o vencedor nas eleições de 1955, Jango trouxe consigo os votos dos trabalhistas e tornou-se vice-presidente. Em 1960 com a vitória de Jânio Quadros, Jango foi novamente eleito vice-presidente. Foi neste período que iniciou uma campanha de não alinhamento, estreitando os laços com países que o Brasil não mantinha contato, como por exemplo, a China. E foi durante uma viagem a este país que, em 25 de agosto de 1961, Jango recebeu a notícia da renúncia de Jânio.

     Em seu depoimento, Leonel Brizola conta que quando soube da renuncia de Jânio, procurou medidas que garantissem a posse de Jango na Presidência da República. Leonel Brizola deu início à campanha da Legalidade mobilizando toda a população gaúcha. Através dos meios de comunicação informava a opinião pública do estado e do país, no sentido de legitimar a posse de Jango, que assumiu a presidência em 08 de setembro de 1961.

     O documentário destaca o comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil no Rio de Janeiro, onde Jango defendeu a reforma da Constituição e a implantação de reformas de base, que abrangiam as reformas tributária, educacional e agrária, o direito do voto pelo analfabeto e a desapropriação de terras em torno de rodovias e ferrovias. Estas reformas, que não agradaram os opositores de Jango e o acusavam de ser desrespeitoso com as leis do país, acabaram por determinar a derrubada de João Goulart obrigando-o a exilar-se no Uruguai e mais tarde, na Argentina.

     Solon Viola, ex-preso político e atualmente professor da UNISINOS, iniciou o debate descrevendo o contexto histórico que o Brasil atravessava, mais especificamente, sobre as articulações que antecederam o Golpe de 64. O Professor relatou que nos dias que precederam a queda de Jango, seu pai, que distribuía panfletos para ferroviários, percebendo o clima de tensão, o proibiu de ir à escola.

     Questionamentos acerca do que teria acontecido se Jango tivesse resistido foram os mais frequentes durante o debate. Jango permaneceria na presidência? Ocorreria um derramamento de sangue?  Um oficial da marinha brasileira, conta no documentário, que o Brasil poderia resistir por pouco tempo, mas que os navios americanos aportados na costa brasileira “entrariam em ação” desencadeando uma guerra civil. Viola fez um paralelo com o processo de implantação do regime ditatorial no Chile, quando os militares apoiadores de Allende foram massacrados, e ressaltou que no Brasil o processo foi “mais ameno”.

     Segundo Solon, o interesse econômico das empresas, que almejavam se associar ao capital internacional, beneficiando-se de tecnologia estrangeira, foi um impulso para o Golpe. Porém, esta aliança deveria ser avaliada com mais cautela, já que aquelas empresas que não se adequassem ao novo sistema corriam o risco de serem eliminadas.

     O público presente na terceira noite do CineDebate, além de assistir um filme sobre a trajetória política de João Goulart entrelaçada com sua vida pessoal, presenciou um debate enriquecedor que certamente contribuiu para o resgate da memória relacionada ao período da ditadura civil-militar brasileira.

 

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