Programação do APERS na 3ª Semana Nacional de Arquivos

Deixe um comentário

Cartaz ASCOM III SNA 3

3ª Semana Nacional de Arquivos: Exposições Presenciais

Deixe um comentário

Conheça as exposições presenciais que compõem o percurso “Caminhos dos Arquivos” em cada instituição parceira:

Exposições Presenciais SEM APERS

Acesse também a versão virtual e participe!

Participe da III Semana Nacional de Arquivos!

Deixe um comentário

Cartaz ASCOM III SNA 1

APERS participará da 3ª Semana Nacional de Arquivos

Deixe um comentário

Os arquivos representam espaços de memória importantes para a história de um lugar. Em seu interior residem vozes, muitas das vezes destoantes, que trazem à tona um passado complexo e multifacetado, revelando as experiências e percepções de indivíduos e/ou grupos sociais em seus vários loci de sociabilidade. Pela natureza histórica que adquirem com o passar do tempo, somado ao caráter comprobatório da documentação, os arquivos e coleções documentais constituem patrimônio cultural, sendo sua preservação e salvaguarda responsabilidade tanto do poder público quanto da população em geral. Somado a isto, os arquivos ainda podem ser articulados como instrumentos auxiliares para a promoção dos direitos sociais e fundamentais de cada cidadão e/ou de grupos específicos, servindo como munição contestatória em processos e ações que venham de alguma maneira ferir os direitos inalienáveis definidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 70 anos em 2019. (ANPUH, 2019)[1]

Vem aí a 3ª Semana Nacional de Arquivos, que acontecerá entre os dias 3 e 8 de junho de 2019. Este evento é promovido nacionalmente pelo Arquivo Nacional e pela Fundação Casa de Rui Barbosa, em comemoração ao Dia Internacional dos Arquivos: 9 de junho. O tema desta edição, proposto pelo Conselho Internacional de Arquivos, é: Desenhando Arquivos.

Esta iniciativa visa a dedicação de um período para realização de eventos de cunho acadêmico ou artístico-cultural relacionados aos arquivos, a fim de aproximar as instituições da sociedade, aumentar sua visibilidade e divulgar os acervos, serviços e instituições arquivísticas, centros de memória e de documentação, e demais entidades que abrigam acervos documentais. A Semana Nacional de Arquivo compreende, portanto, como um instrumento de acesso à informação, “de modo a apoiar o cidadão na defesa de seus direitos e a incentivar a produção de conhecimento científico e cultural – uma das funções dos arquivos”[2].

Neste ano, o Arquivo Público realizará nova edição da exposição Caminho dos Arquivos, em seus formatos presencial e virtual, as quais serão lançadas no dia 3 de junho. Trata-se de uma parceria entre o Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul – APERS e o maior número possível de instituições gaúchas custodiadoras ou detentoras de acervos arquivísticos, de natureza pública ou privada, em uma ação conjunta de exposições temáticas, coletivas, participativas e temporárias, de formatos presencial e virtual, denominada “Caminhos dos Arquivos: Nossas Histórias, Nossas Heranças”, traçando suas localizações como caminhos a serem percorridos para completar a observação de todos os documentos expositivos, como forma de guiar o público para conhecer os acervos e serviços de cada Instituição participante, assim como uma forma de estímulo à visitação das mesmas. São mais de 40 instituições participantes, situadas na Capital e em muitas cidades do interior do Estado. A edição virtual poderá ser conferida, a partir do dia 3 de junho, pelo site www.caminhosdosarquivos.com.

Também será realizado o júri-simulado, no dia 3 de junho, às 14h, no Auditório do Arquivo Público do Estado (na rua Riachuelo 1031, Centro Histórico, Porto Alegre/RS) do processo de Joanna Eiras, em parceria com o Serviço de Assistência Jurídica da Faculdade de Direito da UFRGS. Assim como a oficina de Genealogia, ministrada por Israel Boff e Adriana Weber, realizada no dia 8 de junho, às 9h, no auditório do Arquivo Público do Estado (rua Riachuelo 1031, Porto Alegre/RS); e a 1ª edição “Rota Turística Caminhos dos Arquivos”, a qual contará com guia de turismo, iniciando com a visita ao Arquivo Público do RS, após à Praça da Matriz, com visita ao Memorial da Assembleia Legislativa RS e Memorial do Tribunal de Justiça RS, seguindo para o Instituto Histórico Geográfico do RS, descendo em direção da Praça da Alfandega, com Arquivo Histórico RS, e ao Arquivo Municipal de Porto Alegre, finalizando em frente à Prefeitura Municipal. Para inscrever-se clique aqui.

Confira a programação completa aqui.

Atualizado 31.05.2019

DIVULGA APERS – Alteração de equipe!

Deixe um comentário

Em 2011 criamos o núcleo de difusão virtual do Arquivo Público do RS, o DIVULGA APERS, responsável por administrar o blogue, Twitter e Facebook da instituição.

A opção por criar um blogue para registrar e publicizar as ações do Arquivo Público do RS veio por conta de nosso site institucional ser antigo, engessado e por não termos perspectivas de atualização, apesar da demanda. O Twitter e o Facebook, por sua vez, se mostraram boas ferramentas para nos aproximar dos usuários e da sociedade em geral, direcionando-os para nosso blogue e abrindo mais um canal de comunicação.

Silvia, Juliano, Clarissa e Viviane

Assim, em 2011 as arquivistas Viviane Portella de Portella, Silvia de Freitas Soares e a historiadora Clarissa de Lourdes Sommer Alves, a época chefiadas pela arquivista Maria Cristina Kneipp Fernandes, planejaram as ações de criação do núcleo, com o lançamento das mídias no dia 1º de agosto.

Estruturamos o uso das mídias de forma a fidelizar o público, com publicações semanais (todas as quarta-feiras) no blogue, atualizações semanais no Facebook com as notícias que remetem a tais publicações e postagens diárias no Twitter com dicas e chamadas para os artigos do blogue. Foi um processo de “formiguinha” tanto para instigar os colegas a escreverem notícias e artigos de maneira a formarmos uma “linha do tempo virtual”, como também para fazer com que o público nos conhecesse e acompanhasse.

O tempo passou, o Divulga APERS ao longo destes quase 8 anos se consolidou, nossa equipe foi mudando… Maria Cristina deixou de fazer parte, Clarissa, com suas muitas demandas, se afastou, mas sempre que foi preciso “estava por perto” para ajudar Silvia e Viviane… Em abril desse ano Silvia foi relotada… e a necessidade de mudanças veio! Com isso, a partir de junho Viviane também deixa a equipe, passando o Divulga APERS ser de responsabilidade de Clarissa e do arquivista Juliano Silva Balbon. Sucesso crescente ao Divulga e a equipe do APERS!

Notícias relacionadas:

Atividades APERS: DIVULGA APERS

APERS Entrevista: Mariana Flores da Cunha Thompson Flores – Parte III

Deixe um comentário

No trecho da entrevista publicado na semana anterior, a historiadora Mariana Flores da Cunha Thompson Flores vinha explicando as formas como os sujeitos sociais manejavam o espaço fronteiriço, ensejando o questionamento sobre as fontes de pesquisa empregadas.

Trabalhou só com os processos-crime ou trabalhou também com processos cíveis?

Eu trabalhei com processos cíveis, processos-crime, eu trabalhei bastante com ações ordinárias, com ações possessórias, principalmente na dissertação de mestrado. E essas ações ordinárias foram muito interessantes porque elas na grande maioria trazem cobranças de comércio. Especialmente comerciantes que morrem e na abertura do inventário todo mundo com quem ele mantinha dívidas vai abrir suas ações para saldar essas dívidas, o que era normal. Era normal em um comércio que circula sem moeda e que se reproduz no crédito. E normalmente, muitas vezes essa dívida é saldada no momento da morte, quando se abre inventário. Nessas ações ordinárias tu percebes que tem um volume grande de comerciantes cobrando dívidas. Foi bacana, porque eu fui fazendo uma espécie de mapeamento dessas cobranças de dívidas. Quem cobrava de quem. Qual região do estado cobrava de qual região do estado. E aí de alguma forma tu consegues ver quais são as regiões que mais fornecem mercadorias e quais as que mais compram mercadorias. E por aí eu consegui ainda entender um pouco do alcance desse comércio feito pela fronteira oeste. Sabendo que esse comércio era baseado em grande medida por contrabando. E a gente consegue identificar comerciantes lá de Uruguaiana, lá de Alegrete, vendendo para lugares muito distantes. Lugares que estavam muito mais próximos de Porto Alegre. Muito mais próximos de Pelotas e Rio Grande. No entanto, compravam de Alegrete, compravam de Uruguaiana. Que eram muito mais distantes, mas certamente ofereciam um preço muito mais barato. E só ofereciam mais barato porque a mercadoria entrava por contrabando.

Eu acho interessante que essa documentação tem um grande potencial. E os historiadores geralmente se atêm aos processos criminais, aos inventários, mas se apropriando também das possessórias, das ordinárias, eu acho que o teu trabalho é um exemplo de que pode render muito.

Rende, e tem uma outra coisa que eu tenho feito, fincado pé, também, que é as valências dos processos-crime. Eu comento isso muito com meus alunos. Quando a gente fala, pessoa que pesquisa elite, ah, vai olhar inventário. A pessoa que pesquisa populares, vai pesquisar processos-crime. A pessoa tá pesquisando um determinado contexto ou sujeito. Vai olhar os processos-crime pra fazer a pesquisa mais verticalizada, mais qualitativa. Então, essas máximas, elas estão impregnadas no nosso senso comum de historiador. A ideia de que processo-crime é pra acessar camadas populares e a ideia de que processo-crime é pra pesquisas de cunho mais qualitativo. E eu tenho feito essa reivindicação já há algum tempo. É claro que processo-crime te dá uma visibilidade maior de populares. Mas isso também tem que ser visto com olhos críticos, porque essa afirmação, feita de qualquer maneira, é muito perigosa, porque ela vai endossar que, então, populares cometem mais crimes. Eles não cometem mais crimes. Só que sobre eles recai a criminalização. Sobre eles recai o patrulhamento, que não recai sobre a elite. Então naturalmente eles estão mais representados. Segunda coisa, que processos crime é pra análises de cunho mais qualitativo. É claro que nos processos-crime tu tens pessoas falando. Tu tens o discurso das pessoas, por mais que ele seja, a gente sabe, manipulado, manipulado pelo que o Boris Fausto chama manipuladores técnicos, todas aquelas regras de registro de processos-crime que vão tolhendo a redação e tolhendo muitas vezes recortando, editando, as falas dos depoentes, a gente sabe que apesar de tudo isso a gente tem acesso às falas dessas pessoas. É claro que isso nos dá uma qualidade pra um trabalho mais verticalizado que é diferente de outros processos. Por mais que tenham as manipulações, a gente sabe que o processo tem essa riqueza. Agora, além de tudo isso, o que eu tenho reivindicado muito é que o processo-crime é, os processos-crime são uma janela também muito interessante para se acessar elite. Vejam, os ladrões de gado, quem mais rouba gado nos processos que eu recolhi, são estancieiros. São criadores, assim, criadores pensando assim como médios proprietários, estancieiros como proprietários maiores. Mas são criadores com propriedades, que vão roubar entre vizinhos. Do sujeito da propriedade ao lado. Esses são os que roubam em maior número. O popular rouba uma cabeça de gado pra subsistência. Os que roubam muito gado são os proprietários, os estancieiros. Contrabandista. Quem faz o grande contrabando? O grande comerciante. Então o processo crime é também uma janela pra acessar uma classe média e uma elite também. E a outra coisa, nesse sentido então é que, sim, processos-crime servem para essas análises qualitativas, é claro que servem, não é à toa que a gente tem isso impregnado no nosso senso de historiador. Mas processos crime são fontes que se prestam a análises seriais! Elas respondem aos requisitos básicos. São fontes massivas, homogêneas e reiterativas. A gente consegue fazer análise serial com processo-crime. E eu tenho feito. Se pegar os resultados dos trabalhos… Tu vais ver, tem muita tabela, tem muita quantificação. Ivan Vellasco, que é um historiador de Minas Gerais faz isso brilhantemente! Quantifica processo, mapeia processo, faz georreferenciamento pra trabalhar com processo-crime. Eu tenho insistido muito com isso, com os meus orientandos, com os meus alunos. Processo-crime também pode ser tratado como fonte serial, como fonte quantitativa, portanto!

Então tá certo, Mariana, te agradeço pela entrevista, foi bem bacana.

Notícias relacionadas:

APERS Entrevista: Mariana Flores da Cunha Thompson Flores – Parte I 

APERS Entrevista: Mariana Flores da Cunha Thompson Flores – Parte II 

APERS Entrevista: Mariana Flores da Cunha Thompson Flores – Parte II

Deixe um comentário

No trecho da entrevista publicado na semana passada, a historiadora Mariana Flores da Cunha Thompson Flores vinha falando do papel das fontes do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul em sua trajetória de pesquisa.

Tem uma questão que eu achei bastante importante no teu trabalho, que tu dizes que a fronteira não é apenas um cenário, ela é definidora de lógicas. Ela define o formato, o funcionamento de uma série de coisas, não é espaço físico somente.

 Sim, eu faço essa afirmação, embora, se descontextualizada, ela pode ser mal lida e pode nos empurrar pra uma leitura sobre o espaço de fronteira que já está vencida desde o século XIX, que atribui um determinismo geográfico, um determinismo do meio sobre as pessoas, e não é essa a ideia. A ideia é justamente pensar que a fronteira enquanto espaço territorializado, quer dizer, a fronteira que não é um espaço vazio, é um espaço que só existe porque as pessoas fizeram uso dele, se apropriaram dele, fizeram uso, e construíram as lógicas que aquele espaço permite. Então eu tô fazendo essa ressalva só pra deixar claro que tem… Sim, eu entendo que a fronteira é quase que um agente, eu digo isso, a fronteira não é um cenário, a fronteira é um agente, mas ela é um agente porque as pessoas territorializaram aquele espaço. As pessoas instituíram um limite político, justapondo soberanias, justapondo legislações. Os sujeitos fronteiriços apreenderam essas margens e conseguiram estabelecer essas estratégias em suas vivências através da fronteira. Ao mesmo tempo também isso precisa ser dito com certo cuidado, porque também para não incorrer numa total racionalidade desses agentes nas suas condutas. A minha ideia de racionalidade, enquanto eles se valem e estabelecem estratégias é muito mais numa linha Giovanni Lévi, naquela linha de racionalidade limitada, é racional mas é racional dentro do meu cotidiano, dentro do meu costumeiro, e não porque todos os dias ardilosamente eu defino o que eu vou fazer pra sobreviver. Uma coisa muito mais absorvida, orgânica, do que propriamente refletida… Porque a palavra estratégia ela traz um pouco essa carga.

E essa concepção da estratégia no sentido de uma racionalidade limitada está relacionada ao teu conceito, e do Farinatti, de fronteira manejada?

Esse conceito, ele nasceu aqui, no Arquivo Público.

Conta como foi?

Acho que vale a pena. O que havia da minha parte, quando eu comecei a fazer o mestrado, foi quase uma agonia, uma angústia muito grande. Porque toda oferta que eu tinha de historiografia a respeito do conceito de fronteira, que era uma historiografia tributária dos anos 90, de uma ideia de fronteira plenamente integrada, que os fronteiriços formavam grandes “comunidades do ‘nós’”, quase que se opondo aos seus Estados de origem, e tecendo redes bem articuladas nas regiões, quase que dirimindo o limite político que passava por ali. A própria fronteira. Essa é uma historiografia dos anos 90, que é uma historiografia que teve os seus avanços, porque trouxe o lugar da fronteira pro fronteiriço, pra essas redes, venceu uma historiografia tradicional, que pensava a fronteira como um espaço de barreira, limitador de relações, então essa historiografia dos anos 90 ela foi genial. Avançou imensamente. Rompeu com paradigmas que foram importantes. Só que em alguns momentos ela também forçou um pouco. Ela acabou carregando um pouco na interpretação e tendeu para uma integração plena do espaço fronteiriço. E essa era a historiografia que havia disponível quando eu estava fazendo minhas pesquisas. E quando a gente vai pras fontes, eu não consegui enxergar isso nas minhas fontes. Eu percebia sim, que havia essa fronteira, feita pelo indivíduo, pelo fronteiriço, mas eu percebia ao mesmo tempo o papel do Estado, o Estado não era irrisório, inútil, inoperante. Ele tava ali. Adaptado às redes locais, OK, mas ele estava ali. E eu percebia também que aqueles fronteiriços, por mais que tecessem suas redes sociais, familiares, de trabalho dos dois lados da fronteira, eles nunca deixavam de reconhecer estarem de um ou de outro lado da fronteira. Eles nunca deixaram de reconhecer o seu pertencimento, ainda que não fosse um pertencimento nacional, mas o seu pertencimento territorial diante do outro que vinha do outro lado. Eles pertenciam essas diferenças. E isso não combinava com essa historiografia dos anos 90. E essa angústia foi crescendo em mim. E eu também era nova e não achava que eu podia debater com uma historiografia consolidada. Minha angústia exatamente era esta. O que eu vou fazer? Eu vou mutilar as minhas fontes pra tentar fazer caber em um conceito de fronteira que já existe? E em conversas, isso foi um momento muito bacana, também, do Arquivo, como eu falei no início, a gente fez amizade, a gente saía pra almoçar todos juntos, a gente saía pra tomar café todos juntos, e essas saídas eram pra conversar sobre tudo, mas era muito pra falar sobre as pesquisas de cada um, e foi nessas conversas que eu, o Farinatti e a Márcia Volkmer compartilhamos, todos os três estavam com a mesma angústia. Todos os três estavam… “Pois é, que que a gente vai usar então? Que conceito de fronteira a gente vai usar?” E aí eu acho que a gente foi se encorajando também. Os três se encorajaram para dizer “não, se essa historiografia não serve, a gente talvez não tenha o vigor intelectual pra propor um novo conceito, mas a gente pelo menos vai, diante da munição que a gente tem, debater com essa historiografia, dizer o que serve e o que não serve. E isso foi ganhando corpo, até que se formulou, já na dissertação de mestrado eu apresentei uma primeira formulação, o Farinatti também na tese de doutorado dele, logo depois a gente publicou juntos um capítulo avançando um pouco mais nessa discussão, e aí eu acho que o fechamento foi na minha tese de doutorado, a apresentação assim mais bem acabada do que se pensou quando se propôs repensar esse conceito de fronteira e pensar a partir dessa nova perspectiva que a gente batizou fronteira manejada.

E qual foi o papel da pesquisa empírica com os processos criminais na formulação, na reflexão sobre esse conceito?

Foi tudo, porque toda essa agência dos fronteiriços que eu estou relatando, toda essa percepção que a gente teve do quanto os fronteiriços, desculpe a redundância, percebiam a existência de uma fronteira ali, eles sabiam inclusive onde passava o limite. A linha. Embora não estivesse riscada em lugar nenhum, eles sabiam onde passava o limite. Tudo isso tava, era perceptível nos processos. O Arquivo Público tem, eu trabalhei com alguns processos, nos quais o sujeito que comete uma infração, um delito, imediatamente vai em direção à fronteira. Usando daquele recurso que eu comentei antes, de se colocar livre de quem pode punir, de quem pode prender. Imediatamente ele foge em direção à fronteira. Isso se repete inúmeras vezes nos processos. Eu quantifiquei isso nos diferentes capítulos. Mas em alguns processos eles estão fugindo já sendo perseguidos pela polícia. E eles fogem em direção à fronteira, e quando eles cruzam a fronteira eles param, porque sabem que a partir dali a polícia não pode mais prender e a polícia também sabe. E veja, é um limite imaginário, um limite que não está riscado, eles simplesmente sabem que é por ali… E eles passam a fronteira e param de fugir. Porque a polícia não pode mais prender. Então os processos-crime foram fundamentais na percepção dessa forma como os fronteiriços se portavam na fronteira, como o Estado está presente ali. Como que as leis agem nesse espaço, como os fronteiriços se dão conta disso e manipulam essas leis. Quando eu trabalhei com casos de sedução de escravos e fugas de escravizados pela fronteira que iam em busca da sua liberdade também, porque do outro lado a legislação já havia abolido a escravidão. Também fica muito claro como escravizados vão em busca da sua liberdade cruzando a fronteira e como (isso não fui só eu que fiz, tem inúmeros trabalhos que lidam com esse tema).

Na próxima semana teremos a terceira e última parte da entrevista!

Notícias relacionadas:

APERS Entrevista: Mariana Flores da Cunha Thompson Flores – Parte I 

Acervo do Judiciário: liberação e indisponibilidade de Comarcas para consulta IV

Deixe um comentário

Informamos que está disponível no Sistema AAP, no portal do Arquivo Público do RS, a pesquisa dos dados dos documentos do Poder Judiciário referentes à Comarca de Santa Maria – PJ 069 e à Comarca de São Pedro do Sul – PJ 084.

Após 05 meses de trabalho, foram revisados e indexados os dados de 6.141 processos que estão distribuídos em 229 caixas da Comarca de Santa Maria – PJ 069 e 05 documentos que estão em 01 caixa da Comarca de São Pedro do Sul – PJ 084.

Abaixo disponibilizamos a descrição dos fundos e os índices contendo os dados básicos dos documentos indexados no sistema AAP (para acessar, clique em cima dos links):

Com o término do trabalho destas Comarcas, a equipe de indexação do APERS deu início à organização e revisão dos processos da Comarca de Cachoeira do Sul – PJ 011, acervo do Poder Judiciário, o que acarreta na indisponibilidade do acervo para consulta na Sala de Pesquisa do APERS. Somaram-se 280 caixas, em levantamento prévio, que estão sendo analisadas e posteriormente os dados dos documentos serão digitados no sistema AAP.

Lembramos que é possível pesquisar processos já indexados do acervo do judiciário, por parte ou período aqui. Se você tiver interesse em consultar estes documentos em nossa Sala de Pesquisa, envie um e-mail para saladepesquisa@planejamento.rs.gov.br e solicite seu atendimento!

Notícias relacionadas:

Acervo do Judiciário: liberação e indisponibilidade de Comarcas para consulta IV
Acervo do Judiciário: liberação e indisponibilidade de Comarcas para consulta III
Acervo do Judiciário: liberação e indisponibilidade de Comarcas para consulta II
Acervo do Judiciário: liberação e indisponibilidade de Comarcas para consulta
Comarcas de Bagé e Canguçu/Piratini disponíveis para consulta online

APERS Entrevista: Mariana Flores da Cunha Thompson Flores – Parte I

Deixe um comentário

Mariana Flores da Cunha Thompson Flores é professora no departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria. Fez sua graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde também concluiu seu mestrado (Clique aqui para acessar a dissertação) em 2007. Cursou seu doutorado na Pontifícia Universidade Católica, tendo defendido em 2012. Sua tese (Clique aqui para acessar) recebeu menção honrosa no concurso da Anpuh/RS – 2012-2014. É autora de “Crimes de Fronteira” (EDIPUCRS/Anpuh, 2014).

Mariana, eu queria te pedir pra falar um pouco sobre tua trajetória e sobre o papel das fontes do Arquivo Público nela.

A minha trajetória como pesquisadora começou na iniciação científica, mas sem contato com fontes primárias. Eu trabalhava com o professor Guazzelli com fontes impressas. A minha empreitada de trabalhar com fontes primárias, isso foi aqui no Arquivo Público que começou. Quando eu resolvi fazer o mestrado, eu pensei em pesquisar contrabando, e essa ideia surgiu por que me parecia que a questão do contrabando na historiografia do Rio Grande do Sul era uma daquelas questões calcadas de um largo consenso historiográfico calcado em ausência de pesquisa. Porque todo mundo referia a questão do contrabando no Rio Grande do Sul, mas ninguém se dedicava a pesquisar. E de alguma maneira havia uma desculpa geral, também, que era difícil pesquisar contrabando, que era uma coisa que acontece na clandestinidade, afinal ninguém vai deixar registro disso.  E quando eu resolvi tomar isso como meu tema de mestrado, a minha ideia foi desde o princípio que era evidente que haveria algum tipo de registro. Se o contrabandista por si não deixou registro, que eu acho correto que ele não produza provas contra ele, mas algum contrabando foi apreendido em algum momento. E por isso eu vim pro Arquivo Público, procurar nos processos-crime. Mas era uma coisa totalmente intuitiva. Nunca ninguém me disse de ter encontrado processo. Pelo contrário.  As pessoas diziam que a minha empreitada talvez não desse certo. E eu vim para o Arquivo Público e comecei a olhar caixas de processos-crime de municípios da Fronteira Oeste… O início foi muito penoso. Porque eu vi muita coisa, muito processo crime sem encontrar nada que me interessasse e aquilo foi me desestimulando, e eu cheguei em algum momento a abandonar. Fui pro Arquivo Histórico. Achando que nos fundos da polícia eu encontraria mais coisas. Aí nos fundos da polícia do Arquivo Histórico, pouca coisa, pouquíssima coisa que não me renderia uma dissertação. E em algum momento eu me decidi. Eu disse, não, eu vou seguir meu faro inicial, como diz Ginzburg, os historiadores têm faro. Eu vou seguir meu faro inicial, eu vou voltar pro Arquivo Público e vou continuar olhando os processos crime. Com mais calma, com mais treino nessa leitura, eu vou seguir fazendo isso. E voltei pra cá e continuei nessa leitura. E a parte que eu digo que é um pouco engraçada é porque aqui, ao longo de todo esse tempo de pesquisa, a gente fez uma rede muito bacana. De pessoas que pesquisavam ao mesmo tempo aqui. E quase todos os dias alguém, ou mais de uma vez, mais de uma pessoa, vinha até a minha mesa perguntar, e aí, já encontrou alguma coisa, e eu sempre balançava a cabeça, não, não encontrei nada. Até o dia que eu encontrei o primeiro processo de apreensão. E eu saí caminhando por todas as mesas, achei, achei o processo, e no final todo mundo se alegrou comigo, porque viram que há muitos meses eu tava na busca. E aquele foi o primeiro, e a partir daquele, outros começaram a aparecer. Eu fui desenvolvendo uma metodologia melhor pra tratar com essas fontes. Eu fui treinando a minha leitura, eu fui também aprimorando a técnica como um todo, de ler mais rápido, de ler o que eu sabia que era necessário ler pra identificar o teor de um processo. Porque o processo crime tem essa característica, ele tem uma capa, só que a capa é a última coisa que vai no processo. É a primeira coisa que o historiador encontra, mas é a última coisa colocada no processo. Então aquela data, aquele título que se coloca eventualmente ali na frente do crime, tudo aquilo foi concluído por fim do processo. E a gente encontra aquilo como a nossa primeira informação. E a gente tem que tentar driblar isso e ler o processo na cadência na qual ele foi se construindo mesmo.  E na capa dificilmente tu encontras o rótulo fiável do que está ali dentro. Então nem sempre tu vais encontrar na capa “Processo de apreensão de contrabando”. Pode encontrar qualquer outra coisa.  E aí tu tens que ler para saber se ele te interessa ou se ele não te interessa. Então tinha que ler todos os processos. Não adiantava olhar só a capa e excluir “esse é de contrabando”, esse é, esse não é. É olhando todos os processos. E à medida que eu fui aprimorando essa técnica de leitura, desenvolvendo a minha metodologia, no trato empírico, eu acho que foi facilitando, o caminho foi ficando mais fácil, ficando mais rápido, mais produtivo, e aí os processos foram aparecendo. Eu consegui reunir um número bem significativo de processos-crime para fazer minha pesquisa de mestrado sobre o contrabando no Rio Grande do Sul. Paralelo a esses processos crime de apreensão de contrabando propriamente, e outros que mencionavam apreensão de contrabando, eu fui me atentando também para processos que se chamam de autos de responsabilidade, que são processos que envolvem sempre funcionários públicos, que no exercício de suas funções conduziram mal os seus trabalhos. E nessa minha zona de fronteira ali que eu recortei (que era Alegrete, Uruguaiana, Santana do Livramento) com imensa frequência os processos de auto de responsabilidade envolviam funcionários da alfândega em Uruguaiana. E quase sempre também tinha alguma questão relativa a contrabando. Por permitir a passagem de contrabando ou não vigiar como deveria ter sido vigiado. E esses processos de auto de responsabilidade foram num número muito maior que as apreensões. E a partir daí eu consegui cruzar esses dois pra conseguir chegar num desenho um pouco mais bem acabado. Porque o número de processos que eu encontrei de apreensão de contrabando não era um número muito grande. Ou seja, eles não condiziam com o que a gente supunha ser a incidência de contrabando na fronteira. Deu algo como, ao longo de todo o período deu um por ano. Evidente que havia mais contrabando do que um por ano! É claro que esses eram só os apreendidos, todos aqueles que tiveram êxito ninguém ia ficar sabendo. Mas mesmo assim, aquele um por ano representava muito pouco do que o que a gente supunha ser.  E daí cruzando com esses autos de responsabilidade a coisa foi ficando menos nebulosa, porque foi possível compreender que a própria alfândega era o vetor da passagem desse contrabando. Havia uma conivência entre uma rede de comerciantes e os inspetores da Alfândega a fim de demonstrar que a Alfândega se justificava, ela recolhia impostos, mas então o comércio ia passar por dentro dela, só que com uma redução de taxação. Isso não era legal, mas era a maneira como o contrabando acontecia. Com uma fachada de legalidade. E a partir dessa pesquisa de mestrado, enquanto, como eu disse, eu tinha que olhar todos os processos para ir depurando o que me interessava, uma coisa que ia me chamando a atenção ao longo dos processos é que a questão do espaço de fronteira sempre aparecia nos processos daquela região. De uma maneira ou de outra. Então o crime de contrabando, é óbvio que ele é um crime de fronteira, ele precisa de uma fronteira pra acontecer. Mas eu percebia que a fronteira apontava em vários processos das mais diferentes naturezas, e eu fui, digamos, separando aquilo. Guardando aquilo na manga pra outro momento. E o outro momento foi justamente o doutorado. Quando eu resolvi pegar todos aqueles processos que apareciam que guardavam relação com a fronteira pra pensar uma rede de crimes de fronteira. Que está baseada em uma legislação internacional, que crimes cometidos de um lado da fronteira, cometidos num determinado lugar só podem ser julgados por aquela jurisdição. Ou seja, no momento que tu vais na fronteira, tu tens a possibilidade de te colocar fora da alçada da jurisdição que pode te julgar, te punir, e pensando nessa valência estratégica de fugir pela fronteira, eu comecei a identificar não tipos criminais específicos, mas posturas dos fronteiriços manejando essa legislação de um lado e de outro, levando vidas entre o lícito e o ilícito, e se movimentando pela fronteira e acabou isso rendendo o próprio doutorado. Que é esse, o “Crimes de fronteira”.

Na semana que vem teremos a continuação da entrevista com a historiadora Mariana Flores da Cunha Thompson Flores!

Palestra sobre a Trajetória de Maria Tereza Joaquina – Rainha Negra no Litoral Norte do RS

Deixe um comentário

APERS em Números – Abril 2019

Deixe um comentário

Confira alguns dados referentes aos serviços realizados no APERS durante o mês de abril:

– Assessorias SIARQ: 18

– Usuários atendidos: 270

– Cidadão: 169

– Usuários internos: 09

– Pesquisadores: 92

– Novos pesquisadores: 35

– Atendimentos aos usuários: 729

– Cidadão: 195

– Usuários internos: 61

– Pesquisadores: 473

– Indexação Sistema AAP: 1.664

– Visualizações blog institucional: 14.552

– Visitas guiadas: 09

Veja abaixo os gráficos de usuários atendidos e atendimentos realizados por dia no mês de abril:

Clique aqui para saber mais sobre os serviços que o APERS presta a comunidade.

 

Atividades SIARQ/RS – Abril 2019

Deixe um comentário

O Arquivo Público do RS, enquanto Órgão Gestor do Sistema de Arquivos do Estado do Rio Grande do Sul – SIARQ/RS, atua para efetivar a gestão documental nos órgãos do Poder Executivo. Durante o mês de abril os servidores participaram de reuniões de assessoria técnica, reuniões de comitês e grupos de trabalho, que listamos abaixo:

  • Dias 05: o arquivista Cléo Belicio Lopes recebeu, no APERS, Evandro Rodrigues, funcionário da Seção de Protocolo e Arquivo Geral da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social – FGTAS, para prestar orientações quanto à classificação, avaliação de documentos e eliminação de documentos.
  • Dia 29: os arquivistas Maria Cristina Kneipp Fernandes e Cléo Belicio Lopes estiveram na Divisão de Outorgas do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMA, para prestarem orientações sobre gestão documental do acervo de processos administrativos desta unidade. Participantes: Ellen Bassan Beneduzzi e Patrícia Moreira Cardoso.
  • Na Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (CORAG), os arquivistas do APERS Jonas Melo, Juliano Balbon, Maria Cristina Fernandes e Silvia Soares participaram de dezesseis (16) assessorias técnicas, para orientações e verificação das atividades de gestão documental para transferência e recolhimento de documentos.

Em abril, o Arquivo Público analisou seis (06) Listagens de Eliminação de Documentos visando a aprovação, recebidos por processos administrativos, conforme estabelecido pelo Decreto 52.808/2015, em seu Art. 6º, parágrafo V.

E, neste mês, foram recebidos na caixa do e-mail assuntos-proa@planejamento.rs.gov.br, trinta (30) e-mails de diversos órgãos, referentes a solicitações, esclarecimentos de dúvidas com relação à atribuição de assuntos no Sistema PROA. Além desses, na caixa de correio do SIARQ/RS foram recebidos oito (08) e-mails com questões sobre gestão documental.

Para solicitar assessoria ao SIARQ/RS, visando implementar as normativas e os instrumentos de gestão documental, pode entrar em contato pelo e-mail siarq-apers@planejamento.rs.gov.br ou telefone (51) 3288-9114.

Visitas guiadas ao APERS – Abril 2019

Deixe um comentário

No mês de abril foram realizadas 09 visitas guiadas ao conjunto arquitetônico do Arquivo Público RS, para mais informações sobre a história, organização e atividades da nossa instituição. Estiveram por aqui:

  • Dia 01: 25 alunos do Programa Jovem Aprendiz da Associação de Integração Empresa Escola Integrar/RS, acompanhados pela professora Daniela Liciane Oldenburg
  • Dia 02: Pesquisador de Geneologia italiana, David Manzini da Assessoria Italiana Nostrali.
  • Dia 04: 12 alunos do Programa Jovem Aprendiz do Instituto Murialdo – Centro de Formação Profissional, acompanhados pela professora Tiesi Nunes Farias.
  • Dia 05: 04 professores vinculados ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Rio Grande (NEABI/FURG), coordenados pela professora Cassiane de Freitas Paixão.
  • Dia 08: nesta sexta-feira recebemos em nosso horário disponível ao público em geral, a publicitária Jacqueline Fonseca.
  • Dia 11: 28 alunos do SENAC-RS Comunidade, curso Educação Profissional Técnica de Nível Médio, Curso Auxiliar Administrativo acompanhados pela Orientadora de Educação Profissional, Maura Jasper.
  • Dia 24:10 estagiários do Arquivo Público, estudantes dos cursos de História e Arquivologia, que atuam no núcleo de tratamento técnico de acervos do APERS coordenados pelo arquivista Jonas Ferrigolo.
  • Dia 25: 12 alunos do Programa Jovem Aprendiz do Instituto Murialdo – Centro de Formação Profissional, acompanhados pelo professo Érico Trindade Rosa.
  • Dia 25: Os Professores de Letras Valéria Monaretto, Paulo Borges, Tatiana Kelle e nossa colega Denise N. Hogetop.

Guias: Clarissa Sommer, Giglioli Rodrigues e Iara Gomide.

Lembramos que são oferecidas, semanalmente, visitas guiadas ao conjunto arquitetônico, com duração de 1h30min, nas segundas-feiras às 14h30min e nas sextas-feiras às 10h. Agende sua visita pelo e-mail visitas@planejamento.rs.gov.br ou ligue para (51) 3288 9134.