Aline Nascimento Maciel Comasseto, 27 anos, é técnica em Biblioteconomia (ETCOM-UFRGS/2005), graduada em Arquivologia (UFRGS/2008) e especialista em Gestão em Arquivos (UFSM/2012). Foi arquivista do APERS entre 2010/13 e agora prepara-se para entrar em exercício como arquivista no Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada – CEITEC S.A. Confira nossa entrevista com Aline:
Blog do APERS: Aline, você poderia comentar um pouco sobre como surgiu a ideia de pesquisar sobre a acessibilidade no APERS?
Aline: Foi a partir da participação no Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais promovido pela UFRGS. Fiquei muito emocionada, a temática mexeu comigo! Até me senti mal com o que oferecemos porque é sempre tudo muito cheio de desculpas… Falta de estrutura, de recursos, sei que são desculpas plausíveis, mas vimos exemplos impressionantes. Fala-se muito em acessibilidade em espaços culturais, mas se referindo a museus e bibliotecas, pois de praxe arquivos não são considerados. Chamou-me a atenção, enquanto arquivista, por saber que o APERS é compreendido como um espaço cultural e foi por isso que fui ao evento. O tempo todo tentava relacionar as falas dos palestrantes com o Arquivo e então surgiu a ideia. A principal e a maior barreira é a atitude, como a questão da deficiência é vista. Não temos rampa de acesso na entrada do Arquivo, temos rampas adaptadas na entrada da garagem… Todas estas questões fizeram-me pensar e ter vontade de escrever sobre o assunto.
Blog do APERS: Quais as principais conclusões que você chegou sobre o acesso e a acessibilidade a informação no APERS?
Aline: Apesar de todas as limitações pode-se dizer que o Arquivo vai muito bem obrigado, quanto ao acesso, pois já trabalhei em outros lugares e sei da dificuldade de acesso. Inclusive durante a pesquisa uma das entrevistadas falou que um objetivo do Arquivo sempre foi o acesso: temos problemas, por exemplo, como a não definição dos prazos de sigilo, o que não é culpa do APERS, mas dos produtores porque não recebemos documentos com prazos de sigilo, na verdade isso é um trabalho que o próprio SIARQ/RS talvez tenha que ter iniciativa. Fora isso, o Arquivo tem sala de pesquisa, espaço para atendimento, mas as questões que envolvem recursos são precárias: por exemplo, não temos computador na sala de pesquisa para disponibilizar consulta ao Sistema AAP. Nas questões de acessibilidade, não temos computadores com tecnologias assistivas, tais como audiodescritor… É um dos pontos que pensei no Seminário… há audiodescritor de livros, por que não audiodescritores de documentos, de uma carta de liberdade, por exemplo? Porque não temos recursos humanos, computadores para isso! São as barreiras de estruturas! Os próprios funcionários ficam com os documentos inacessíveis porque a rede de dados é lenta, não podemos ter uma pessoa com deficiência trabalhando no Arquivo porque não vai poder acessar o Prédio III, já que o elevador não funciona! A acessibilidade tem de ser horizontal e vertical, a pessoa tem que circular por todos os ambientes. Tive a oportunidade de ver soluções, pequenas atitudes que fazem com que os problemas sejam minimizados e que a pessoa se sinta inserida no espaço cultural, um exemplo é a Pinacoteca de São Paulo. Quanto ao discurso que o prédio é tombado e não pode ser adaptado, isso não é desculpa faz tempo, porque tem uma instrução normativa do IPHAN que trata sobre a questão de acessibilidade. Claro, o projeto tem de ser elaborado/acompanhado por profissionais capacitados, mas tudo pode ser feito. O Museu do Louvre é adaptado, quer exemplo melhor?! Conversei com uma arquivista do APERS a qual relatou que tentaram chamar um arquiteto da SARH, mas que ele não vinha. Penso que somos muito barrados quando dependemos de outros, porque o APERS não tem autonomia.
Blog do APERS: Você foi arquivista (servidora técnica cientifica) no APERS, qual a importância desta vivência para tua atuação enquanto profissional?
Aline: Muita! Foi minha primeira experiência no serviço público. No início foi um choque, vim de uma universidade particular e achava que as coisas lá eram lentas… Quando vim para o Arquivo… Nossa! Nessa universidade, quando estava em período de experiência, meu chefe chamou-me atenção para que tivesse o “pulso mais firme” com meus funcionários… Eu desenvolvi isso lá! Então no APERS tive muitos problemas em relação a isso, uma das coisas que comecei a aprender é a lidar com pessoas, gerenciar equipe… Não vou dizer que melhorei, porque infelizmente tenho um problema muito grande de falta de paciência e trabalho melhor sozinha. Talvez numa próxima experiência eu consiga conciliar minhas vivências… Mas fora isso, a experiência no serviço público de já ir “vacinada”, de saber até onde tu podes ir, o que tu podes falar… Tenho um ritmo mais agitado, me pergunta uma coisa e falo até o que não é necessário, trabalho em um ritmo mais rápido, várias coisas ao mesmo tempo… E foi um pouco por isso que procurei outra oportunidade, acho que se eu continuasse aqui… emocionalmente estava me fazendo mal. Quando comecei a trabalhar aqui teve uma reunião de divisão de atividades, quando falaram em gerenciamento de acervos levantei a mão, sem nem saber direito o que era! A arquivista Camila Couto que trabalhava comigo brincava: “Levantou a mão por quê?”. Não imaginava tudo que o gerenciamento de acervos iria me proporcionar. Trabalhei em uma atividade que me possibilitou conhecer o acervo como um todo, mesmo que tenha sido só para saber em que caixa estava algum documento, em qual estante… Tive uma experiência muito boa sobre o Poder Executivo, Poder Judiciário… Com o Judiciário já tinha tido uma experiência em um trabalho anterior. Sai do Arquivo podendo dizer que conheço bem o acervo do Poder Judiciário. Quando comecei, já havia uma equipe trabalhando no Gerenciamento, mas mesmo assim consegui deixar com a minha cara. Ter desenvolvido um trabalho, saber que contribuí… Senti-me capaz como arquivista, mesmo muitas vezes pensando que não tenho o perfil de arquivista e justamente por ser bagunceira… Quem já teve a oportunidade de conhecer a minha mesa sabe, quando alguém chega e me pede algum documento chego a suar frio! Sempre duvidei muito de ser capaz e aqui foi uma oportunidade. Hoje penso que fiz um bom trabalho, sinto-me um pouco mais arquivista!
Blog do APERS: Como você acredita ser importante aliar as pesquisas acadêmicas aplicadas ao local de atuação profissional? Por quê?
Aline: Na minha defesa fui bastante elogiada por ter trabalhado um tema que é considerado mais difícil e ter relacionado com o Arquivo. A bibliografia sobre esta temática é mais sobre outros tipos de espaços culturais… Até fiquei um pouco culpada, pois já sabia que estava saindo quando apresentei a monografia… e não colocaria em prática. No próprio curso de Gestão em Arquivos, durante as disciplinas, tinha bastante troca de informações, então sempre relacionando um assunto com outro, questionei muitas coisas durante o curso.
Blog do APERS: Qual tua dica para pesquisadores que tem interesse em desenvolver trabalhos aplicados ao local de trabalho?
Aline: Tentar visualizar as dificuldades. Por um bom tempo pensei em fazer algo relacionado com o acervo do judiciário, mas para mim é uma coisa pronta, definida, não tenho problemas, conheço. E a acessibilidade é algo novo. Não se fala de acessibilidade em Arquivo, que os arquivos têm de ser acessíveis e tal… A dica é tentar ver qual ponto que não é explorado e que tu visualizas como necessário.
Blog do APERS: Nas horas vagas quais são tuas atividades preferidas de lazer?
Aline: Mãe do Elvis (cachorro)! Sou muito amigos e família (os mais próximos). Sou recém-casada, então é Aline e Tiago em algum lugar! Estamos curtindo o casamento, mobiliar o apartamento… Louca para ter filho! Gosto bastante de sair com meu marido e amigos.
Saiba mais sobre a pesquisa: Acessibilidade e acesso no APERS – Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul
Comentários