Na última postagem sobre Ações Educativas em Arquivo, abordamos os trabalhos realizados pelo Arquivo Histórico de São Paulo. Hoje, vamos atentar para experiências desenvolvidas por arquivos de Portugal, uma referência para o campo de conhecimento arquivístico. Vamos começar pelo Arquivo Municipal de Lisboa (AML) responsável pela custódia de acervos datados desde o século XIII e considerado um dos maiores daquele país.
Fisicamente ocupa diferentes espaços físicos e guarda documentos capazes de contar a história da cidade. Nesses espaços são encontrados documentos em diversos suportes, tais como pergaminho, livros, fotografias, vídeos, cartazes. De um modo geral os acervos são constituídos por documentos produzidos pelos órgãos do município, documentos históricos que compõem outros fundos diversos, documentos de particulares como os processos de construção de obras privadas e acervo videográfico.
Além de todas às tarefas que são competência de arquivos públicos, ele dispõe de um exemplar serviço educativo que pode ser notado em uma visita rápida ao site da instituição. As informações que encontramos na página são muitas e, por isso, vamos comentar de forma genérica e ampla por aqui – ao leitor, deixamos o convite para uma pesquisa mais ampla na página do AML.
O Arquivo Municipal de Lisboa dispõe de atividades destinadas para distintas faixas etárias que abordam a história de Lisboa e a história da fotografia. Para o público Pré-escolar encontramos: (1) A casa do Kivo e (2) Pequenos fotógrafos. Para o 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico, equivalente ao nosso ensino fundamental temos atividades sobre a história de lisboa: (1) Lisboa no tempo de D. Afonso Henriques; (2) Lisboa no tempo de D. Dinis; (3) O Foral Manuelino e Lisboa dos Descobrimentos; (4) A restauração da independência de Portugal em 1640; (5) O terremoto de 1755 e a reconstrução de Lisboa; (6) 5 de Outubro de 1910: A revolução republicana; (7) A revolução de 25 de Abril de 1974. Atividades sobre os costumes e tradições da cidade de Lisboa: (1) A bandeira municipal de Lisboa: história e símbolos; (2) Ontem e Hoje: os meios de transporte em Lisboa; (3) Os vendedores ambulantes e quiosques no princípio do século XX; (4) Santo António: tradição e festa. E atividades temáticas sobre a fotografia: (1) Álbum em branco; (2) À descoberta da photographia; (3) Fotógrafo à la minute.
Essas são as atividades realizadas nas dependências do Arquivo que podem ser compreendidas nos seus detalhes na página do AML. Além delas, é disponibilizada ao professor, uma atividade intitulada Explorar a cidade, que acontece durante um ano letivo. O objetivo dessa atividade é explorar a história do bairro na qual está inserida a escola onde os alunos estudam a partir do documento do AML. Acontece por meio de três ou quatro visitas e prevê a elaboração de um trabalho final, uma reflexão das experiências vividas e das atividades realizadas.
Por fim, ainda encontramos sugestões de atividades disponibilizadas em formato digital. Para as crianças e jovens temos: A História de Kivo e sua família, Jornal ArKivo, Jogos e Segredos e Tesouros. Para as famílias, roteiros de atividades que incluem exposições, visitas e exibições de filmes em diversas instituições culturais. E para os professores, materiais de apoio à sala de aula.
Os próximos serviços educativos que vamos apresentar fazem parte das atividades desenvolvidas pelo Arquivo Regional da Madeira (ARM), localizado na cidade portuguesa de Funchal na Ilha da Madeira, capital da Região Autônoma da Madeira.
Sob a responsabilidade desse arquivo está a guarda de documentação da administração da Ilha da Madeira e do Porto Santo, desde o início do povoamento da região. Por lá, entendem que as atividades pedagógicas fazem parte de um Serviço Educativo e de Extensão Cultura, que objetiva o contato com um público não tradicionalmente usuário de arquivo.
Destinado ao público escolar, são oferecidas ações realizadas permanentemente pela instituição e outras de caráter temporário. Ambas problematizam as temáticas da genealogia e da emigração. São elas: (1) Vamos conhecer o Arquivo Regional da Madeira; (2) Dia aberto a Comunidade; (3) Workshop Genealogia e História da Família; (4) O Meu Conselho… Porto Santo, Porto de Moniz; (5) Cadernos Pedagógicos Temáticos; (6) Maletas Pedagógicas “Eu Escondidos” (genealogia e história das famílias na escola); Ateliê Aprendiz de Arquivo: uma aposta ganha.
As atividades são minuciosamente explicadas na edição número 0 do Jornal Aprendiz do Arquivo, outra ação voltada para o público escolar. Até o momento foram 15 edições que divulgam as atividades desenvolvidas pela Instituição. Composto por um editorial, manchete das principais notícias e atividades, projeto em curso, guia do Arquivo, tema central, atua escola e generalidades, a publicação tem periodicidade semestral e possui uma linguagem extremamente acessível ao público não especializado e pensado mesmo para ser lida por estudantes.
Além disso, o Arquivo disponibiliza visitas orientadas ou ações organizadas de acordo com o solicitado pelas escolas e instituições de ensino superior. Isso se deve a compreensão, expressa na página da Instituição, de que o ARM é um dos veículos da identidade coletiva de uma comunidade, da mesma forma que um dos suportes da administração pública e que tem como função “democratizar e simplificar o contato do público com os documentos históricos, quebrando barreiras culturais, sociais e geográficas ao seu acesso e instituindo-se como fator de cidadania” dos madeirenses.
Por fim, vamos apresentar o serviço educativo do Arquivo Municipal Ponte de Lima, localizado na vila mais antiga de Portugal, hoje Município de Ponte de Lima.
Responsável pela coordenação das ações referentes à Seção do Arquivo da repartição Administrativa, a instituição também possui como tarefa a defesa e a salvaguarda de arquivos, coleções e demais documentos com valor histórico e patrimonial originados por outros organismos, pessoas ou serviços existentes no Concelho (unidade administrativa).
Além de recolher, inventariar, preservar, cabe ao Arquivo divulgar o patrimônio documental do Conselho de Ponte de Lima ao grande público. Para isso, são organizadas exposições, atividades de extensão cultural e educativa e publicações.
Encontramos as informações sobre os serviços educativos em um plano de atividades para o ano letivo 2014/2015. Lá estão descritas as seguintes ações:(1) Exposição Ponte de Lima: a noite pelo dia, uma história feita de Luz; (2) Projeto Artes e Ofícios: Os saberes e as artes tradicionais – Lotoaria Luminária, para os 3º e 4º anos do 1º Ciclo; (3) Concurso O meu Cartaz das Feiras Novas: 190 anos, para os 3º e 4º anos do 1º Ciclo; Oficinas O meu Cartaz das Feira Novas à minha maneira e A mascote das Feiras Novas à minha maneira, para o Jardim de Infância e 1º Ciclo; (4) Teatro de Fantoches Feiras Novas, uma história feita de luz e D. Teresa fez vila o lugar de Ponte, para o Jardim de Infância e 1º Ciclo; (5) Outras atividades destinadas para o Jardim de Infância, 1º e 2º ciclos: (a) Arquivista por um dia, (b) A caça de documentos no Reino da Informação, (c) Viagem pela rota das especiarias e (d) A minha árvore genealógica.
Tudo isso para uma apresentação genérica. Conseguem imaginar o quanto de discussão poderíamos fazer a respeito de cada uma dessas experiências? Sobre cada uma dessas atividades? Nossa intenção ao sugerirmos uma série de postagens a respeito das ações educativas desenvolvida por arquivos não foi essa e sim abrimos o caminho para refletirmos o quanto essa deve ser uma das tarefas desenvolvidas pelas instituições arquivísticas de forma permanente, a despeito das mudanças por alterações governamentais. Parece-nos óbvio que os arquivos de Portugal tem percorrido esse caminho, atividades pedagógicas e educativas são compreendidas como serviço público e sobre isso ainda precisamos falar, escrever e defender muito nesta terra do além-mar.
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