Rosani Gorete Feron, 51 anos, é arquivista formada pela UFSM (1982), ingressou no Arquivo Público em 1989 para coordenar a unidade de documentação, em 1995 foi convidada a assumir o cargo de direção e, em 1996 desliga-se do APERS para se dedicar a projetos pessoais, retornando ao cargo de direção em 2003 onde permaneceu até 2010. Desde 2010 é Diretora do Arquivo Histórico de Porto Alegre. Confira nossa entrevista com Rosani!
Blog do APERS: Rosani, você poderia comentar um pouco sobre como decidiu cursar arquivologia?
Rosani: Foi no mural do Colégio, quando estava no 2° Grau. Sempre fui muito tímida, reservada e não tinha coragem de escolher uma profissão onde tivesse que me expor muito. Na lista dos Cursos quando li as características de Arquivologia achei bom, que não iria precisar trabalhar com pessoas. Durante o Curso notava uma deficiência, era um Curso jovem, tinha poucos professores da área. Lembro que gostei de elaborar o projeto de conclusão de Curso e de fazer o estágio final, tive um contato mais efetivo!
Blog do APERS: Na década de 1980 ingressaste no APERS para coordenar a unidade de documentação. Foste uma das primeiras arquivistas a trabalhar aqui, quais foram os maiores desafios?
Rosani: Quando o professor Rossato (Carlos Aléssio Rossato) assumiu a direção do Arquivo Público ele mapeou os arquivistas que estavam trabalhando no Estado. Havia alguns em cargo de técnico em arquivos, então ele começou o trabalho para relotá-los no Arquivo. Eu estava em outra Secretaria, então somente após oito meses do pedido consegui a liberação para ir trabalhar no Arquivo. Logo que cheguei fui convidada a assumir a Unidade de Documentação, na época o Arquivo já contava com algumas arquivistas e tinha uns dezoito funcionários. O foco era atender aos usuários, então algumas vezes atendia a sala de pesquisa, foi uma boa experiência, realmente conheci a Instituição. A estrutura do prédio era bem precária, o Arquivo servia basicamente a guarda de documentos, o corredor lateral do prédio II tinha uma estante de madeira com documentos. Trabalhávamos entre os acervos, onde hoje é corredor de passagem era nosso espaço de trabalho! A rede elétrica foi o primeiro projeto proposto, porque era um perigo, era tudo muito exposto. Contratamos uma bióloga para elaborar um projeto de preservação… Trabalhamos muito na estruturação. Criamos a sala de microfilmes de segurança em conjunto com a Secretaria da Fazenda, que na época armazenava outro acervo… Então primeiro coordenamos a reforma e readequamos os acervos, a sala de pesquisa, pois os usuários que solicitavam cópias autenticadas dividiam o espaço com os pesquisadores, assim o barulho e o fluxo de pessoas atrapalhava a pesquisa… Apesar de no início sermos poucos funcionários, havia um choque cultural, as pessoas que trabalhavam há algum tempo sentiam-se invadidas… Mas aos poucos foram entendendo o nosso trabalho. Criamos o Decreto que institui o SIARQ/RS, a partir disso conseguimos o concurso para dotar o Arquivo de arquivistas…
Blog do APERS: Em 1996 você participou do Plano de Demissão Voluntária (PDV), passando a atuar no setor privado. Como você avalia a comparação público/privado?
Rosani: Fui substituta do Rossato e da Lenir (Lenir Beatriz Fernandes) e quando mudou o governo indicaram-me para assumir a direção. Fiquei um ano e meio, teve o PDV e me candidatei, tinha e tenho gosto pelo privado. Na iniciativa privada estamos à mercê do mercado, dos seus altos e baixos, essa oscilação não temos no público. Acho mais complexo conseguir resultados no público porque precisamos de mais empenho da equipe, temos que convencê-la, no privado contratamos de acordo com o perfil que mais se adéqua a necessidade. No público tens uma diversidade de perfis e atividades a serem executadas… Mas precisas fazer um gerenciamento que, a meu ver, se faz muito mal no Estado, por isso tem tanto problema nos resultados. Não tem uma unidade que auxilia o gestor a dirigir pessoas, na iniciativa privada as pequenas e médias empresas têm equipes especializadas em qualificá-las, no Estado é tudo muito solto. Essas qualificações existentes não possui foco, sempre fui muito crítica, porque oferecem cursos, mas não há aplicação, os resultados não são acompanhados, então eventualmente para o servidor é bom, mas nem sempre ele consegue transformar isso em resultado para o Estado.
Blog do APERS: Foste diretora do APERS entre 1995/6 e 2003/10. O que julgas como maior legado destas gestões?
Rosani: Sempre gostei de desafios, então acabei assumindo responsabilidades no decorrer de minha carreira e fui desenvolvendo um perfil que quando jovem talvez não percebesse. As coisas foram acontecendo, mas nunca me filiei a partido algum. Na primeira gestão começamos a encaminhar alguns projetos, retomamos a discussão sobre a reforma dos prédios, a retomada do prédio III, algumas questões do SIARQ/RS… Só que no Estado a tramitação é lenta. Quando saí no PDV, realmente me desliguei. Ao retornar percebi que o SIARQ/RS não havia evoluído muito, então o elegemos como um projeto prioritário. Os técnicos (arquivistas) estavam atendendo (quanto à gestão documental) por demanda, capacitavam às pessoas para que elaborassem o plano de classificação e a tabela de temporalidade de documentos. Percebi que isso não era a gestão documental que eu imaginava, porque avaliávamos tipologias, por setor! Como o projeto era muito amplo procurei parceiros, mas infelizmente nem todos corresponderam às expectativas. A equipe de técnicos do Arquivo foi qualificada para poder assumir as responsabilidades de trabalhar como consultores. Assim, participaram de capacitações sobre gestão de processos… Mudamos o perfil da equipe para atuarem como gestores! Além disso, a equipe foi dividida em grupos para que também coordenassem projetos internos, avançamos em todos os sentidos! Penso que o maior legado foi a mudança, o resgate do papel do arquivista no Estado como gestor, conseguimos definir melhor o papel de técnico. Como é que tu vais fazer gestão documental sem conhecer, estudar a Instituição? O arquivista não tem que executar, e sim planejar! Conseguimos elaborar o plano de classificação e a tabela de temporalidade únicos porque assumimos a gestão do processo.
Blog do APERS: Qual a sua dica para os arquivistas recém-formados que estão ingressando no mercado de trabalho?
Rosani: Sou defensora do arquivista como gestor e não tecnicista. Claro, no início da carreira tem que fazer a parte prática, até mesmo para ter experiência. Mas tenho dúvida se a Universidade os prepara para atuar no planejamento, parece-me que ainda têm uma formação tecnicista. Muitas vezes perdemos mercado para a área de informática em decorrência disso. Se nós atuarmos como gestores, no planejamento, os sistemas serão feitos pelo pessoal da informática a partir das nossas demandas. Para mim isso ficou bem claro quando da elaboração do sistema AAP. Os arquivistas definiram as necessidades e os programadores executaram o que foi planejado. O arquivista deve gerir e não ficar “apagando incêndios”! Meu perfil de arquivista é aquele com uma formação consistente para ser gestor.
Blog do APERS: Nas horas vagas quais são tuas atividades preferidas de lazer?
Rosani: Sou muito caseira! Adoro cozinhar, receber os amigos… Tenho uma hortinha… Curto as coisas simples, poder tomar chimarrão descansada, conviver com a família… Também gosto de viajar!
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