Acervo da Justiça e Pesquisa Histórica IV

1 Comentário

Chegamos à última postagem sobre o acervo da Secretaria da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (1975-1991). Para ela, selecionamos um conjunto de documentos produzidos pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE), órgão subordinado aquela Secretaria. Elegemos seis processos administrativos, cuja produção tenha passado pela SUSEPE, em meio a um conjunto relativamente extenso de documentos de guarda permanente.

Imagem Documentos
O primeiro deles, produzido em 1980, diz respeito a dados sobre estabelecimentos prisionais. Nele, a Secretaria da Justiça solicita à Superintendência dos Serviços Penitenciários alguns dados para fins de organização de um fichário. Dentre eles, área física, tipo de presídio, área construída, população carcerária, atividades desenvolvidas, cursos ministrados aos apenados, localização dos presídios e melhorias realizadas na instituição. Como resposta a essa solicitação, encontramos em anexo uma tabela com as seguintes informações: denominação do estabelecimento, localização, capacidade, lotação atual, tipo de atividade, categoria, área, data do início do funcionamento como prisão. Ao total, encontramos dados sobre 92 estabelecimentos, dos quais 21 estavam com lotação maior que a capacidade. Também encontramos informações fornecidas pela Unidade de Atendimento Educacional e Social a respeito de cursos (para pintor, encadernador, barbeiro, atendente de enfermagem, tipógrafo, reparador de TV, marceneiro, calceiro, estofador, eletricista, olericultor, artesanato em couro, pedreiro, sapateiro e horticultor), que aconteciam em quatorze cidades, para qualificação de mão de obra, e sobre a quantidade de alunos atendidos. Além dos profissionalizantes, também são citados cursos de alfabetização (MOBRAL), de educação integrada e de supletivos para exames do 1º e 2º graus em 58 estabelecimentos.

Em outro processo, de setembro de 1982, com informações elaboradas pela Equipe de Pesquisa e Planejamento da Unidade de Serviços Especiais da SUSEPE, encontramos um quadro com dados de despesa média, custo por preso e gastos em alimentação. Em cruzeiros são apresentadas os valores da despesa total, da média mensal, do custo mensal e diário por preso e, em separado, as despesas com alimentação.

No terceiro, protocolado em 1980 na Secretaria de Justiça, temos a disposição informações sobre uma proposta para reestruturação da rede penitenciária do estado, elaborada por Grupos de Trabalho constituídos na SUSEPE que diagnosticaram a situação das instituições prisionais e apontaram alguns caminhos para a reorganização da rede penitenciária. Dentre as propostas, encontramos aquela que sugere a criação de Institutos Agro-Pastoris e Industriais (ITAs) e por conta dela, muitas informações são disponibilizadas sobre as instituições que seriam transformadas em ITAs (Colônia Penal Agrícola Gal. Daltro Filho, e Presídios de Sarandi, Pelotas, Erechim, Santa Rosa, Bagé, Caçapava do Sul e Caxias do Sul). São elas: área territorial, área construída, produção agropecuária atual (em sua maioria pra consumo interno), disponibilidade real de vagas, ocupação nominal por sexo (homens, mulheres e clientes estranhos), faixa etária, estado civil, escolaridade, ocupação habitual antes de ser recolhido, situação jurídica (primários ou reincidentes), artigos nos quais foram incursos. Depois disso seguem algumas tabelas com as produções dos municípios (avicultura, produção agrícola, produção extrativista vegetal, produção extrativista animal, pecuária) e uma pequena análise das potencialidades de produção agropecuária.

Anexo ao processo encontramos a minuta-anteprojeto para reestruturação da rede penitenciária estadual e o projeto de decreto que propõe os seguintes estabelecimentos para comporem a rede prisional da Superintendência dos Serviços Penitenciárias: Penitenciária da Região Metropolitana (estabelecimento penitenciário especial); Instituto de Avaliação Psiquiátrica e Instituto de Biotipologia Criminal (Estabelecimento de Classificação e Triagem); Penitenciária Estadual do Jacuí, Penitenciária Estadual de Pedras Brancas, Penitenciária Feminina Madre Pelletier, Instituto Agro-Pastoril de Mariante, Institutos de Trabalho Agro-Pastoril e Industrial, de Reeducação e Ensino Profissional (ITA), Institutos para Jovens-Adultos, Instituto para Idosos, Presídios Regionais, Presídios Municipais, Cadeias Municipais (estabelecimentos penitenciários); Instituto Médico Penal, Hospital Penitenciário, Instituto Psiquiátrico Forense “Maurício Cardoso” (estabelecimentos médicos-penais). Nele podemos notar que estavam previstos às instituições que separassem jovens, adultos, idosos, dependentes químicos e pessoas consideradas de alta peliculosidade. A justificativa para o projeto era a de concentração da política penitenciária na pessoa do preso, no caráter educativo da pena e na preparação para o retorno à liberdade.

Um curso para monitores é o assunto do quarto processo selecionado. Resultado de um convênio entre o Ministério da Justiça e o Estado do Rio Grande do Sul, o curso aconteceu em três etapas: (1) Ciclo Básico – humanas e comunicação, estudos sócio-jurídicos, ciências biológicas; (2) Ciclo Profissional – área de atividades técnicas; e (3) Estágio supervisionado – administração penitenciária, recreação e lazer e relações humanas. Com duração de quatro meses, na primeira edição o curso atendeu a cinquenta alunos e, na segunda, a 120 alunos. O Estado foi responsável pelas contratações, pagamentos e fiscalizações ao longo do curso e pela elaboração de um relatório final.

Encaminhado, da SUSEPE para SJ, exemplar do Jornal “Semanário”, editado no Município de Bento Gonçalves e que contém um editorial e uma reportagem sobre o Presídio daquele município. Esse é o material que consta no quinto processo administrativo, produzido no ano de 1982. Conforme o conteúdo do Jornal, o diretor do presídio solicita apoio para reformas interna e externa na instituição. Financiado pelas Prefeituras de Garibaldi, Carlos Barbosa e Bento Gonçalves, pareceu, pelas informações contidas na reportagem, que a comunidade contribuía com o funcionamento do presídio e que estava sendo convidada a ajudar no processo de reforma.

Por fim, temos um processo de 1981 que trata do adiamento da inauguração do Presídio de Santiago, devido à falta de verbas para compra de utensílios essenciais para o funcionamento da instituição. Nele encontramos muitas fotografias que ilustram uma estrutura completa, com celas, cozinha, oficina, enfermaria, dentre outros locais nos quais faltam somente mobiliários e equipamentos para a ocupação. Por isso, a solicitação de adiamento feita à Secretaria da Justiça, uma vez que a suplementação da verba solicitada para equipar o presídio ainda não havia sido liberada.

Composto por jornais, fotografias, mapas, plantas, memorandos, ofícios, minutas, esses processos fazem parte de um conjunto documental capaz de auxiliar no entendimento do período no qual a responsabilidade pelo funcionamento de instituições prisionais era compartilhada por municípios e estado. Tratam-se de fonte com grande potencial para pesquisas históricas e sociológicas a respeito das políticas de segurança pública, sobretudo de investigações cuja intenção seja a problematização do direito à segurança, a integridade física e psicológica e a possibilidade de reinserção social de pessoas condenadas a penas de reclusão por diferentes motivos.

Clique aqui para ler outros artigos relacionados.

*Acervo em tratamento técnico.

Acervo da Secretaria da Justiça e Pesquisa Histórica III

Deixe um comentário

Hoje vamos dar sequência a série de postagens sobre a documentação que compõe o Acervo da Secretaria da Justiça (1975-1991). Para essa terceira publicação, selecionamos uma pequena amostragem de Processos Administrativos, cujo assunto é a perda de direitos políticos de alguns cidadãos.

Esses processos selecionados foram protocolados no ano de 1982 na Secretaria de Justiça do RS e requeridos ou pelo Serviço Público Federal ou pelo Ministério da Justiça. Eles comunicaram à Secretaria da Justiça do estado a publicação no Diário Oficial da União os nomes de cidadãos que perderam os direitos políticos por terem se recusado ao cumprimento de obrigações legais devido a suas convicções religiosas.

Imagens - Processos Administrativos

Essa situação era prevista no artigo 149 da Constituição Federal de 1967/69 (Emenda Constitucional de 1969), legislação vigente na época em que tais processos foram produzidos. Nesse artigo estava o registro da perda dos direitos políticos “pela recusa, baseada em convicções religiosa, filosófica ou política, à prestação de encargo ou serviço impostos aos brasileiros em geral”. Diferentemente daquilo que passou a vigorar com a promulgação da Constituição 1988, não havia previsão de “escusa de consciência” na legislação daquela época, o que resultou na perda de direitos políticos para muitas pessoas.

Nas constituições modernas encontramos os direitos políticos como uma das expressões dos direitos fundamentais da pessoa humana. Dizem respeito ao poder ou a faculdade de uma pessoa participar, direta ou indiretamente da organização e do funcionamento do governo de seu Estado. No caso do Brasil, existem condições para a aquisição de direitos políticos. São elas a nacionalidade do país que lhe outorga os direitos políticos, a capacidade política (idade, por exemplo) e a ausência de causas de perda ou suspensão de direitos políticos.

A privação desse direito também é uma possibilidade prevista na Constituição de 1988, e ocorre devido ao cancelamento de naturalização, à incapacidade civil absoluta, à condenação criminal, à improbidade administrativa e à recusa do cumprimento de obrigação a todos imposta como a prestação de serviço militar, por exemplo. De início, nenhuma pessoa poderia se recusar a prestação de serviço militar. No entanto, a Constituição de 1988 prevê algumas exceções para essa regra. Em seu artigo 5º, consta o registro que nenhuma pessoa “será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política” o que declaradamente contraia a constituição anterior de 1967/69. O Estado respeita tais motivos como argumento de recusa, desde que a pessoa preste serviço alternativo no lugar de obrigação a todos imposta, previsão também inscrita no mesmo artigo que documenta os direitos fundamentais. A constituição assegura, assim, a chamada “escusa de consciência”, como um direito individual que investe a pessoa de recusar prestar ou aceitar determinada obrigação que contrarie as suas crenças e convicções. A legitimidade da escusa de consciência depende, todavia, do cumprimento da prestação alternativa, fixada em lei desde 1991. Caso contrário, a escusa não é legítima, devendo a pessoa responder pelas consequências de seus atos, dentre eles, conforme mencionado acima, a perda dos direitos políticos (caso interesse ao leitor, as consequências previstas quando da perda desse direito, também são encontradas na constituição).

Daquilo que chamou atenção em uma primeira leitura desses processo foi, justamente, a possibilidade de historicizar e problematizar a existência e a garantia desses direitos fundamentais na legislação brasileira. Esses documentos, de um pouco mais de três décadas atrás, que demonstram o quão recente é, em nosso país, a conquista de uma série de direitos, cerceados outrora por motivos religiosos, pode ser uma interessante fonte de pesquisa para traçar diferentes relações entre a garantia de direitos em regimes ditatoriais e regimes democráticos de organização social.

*Acervo em tratamento técnico.

Acervo da Secretaria da Justiça e Pesquisa Histórica II

Deixe um comentário

Hoje vamos dar sequência a série de postagens sobre a documentação que compõe o Acervo da Secretaria da Justiça (1975-1991)*. Para essa segunda publicação, selecionamos uma pequena amostragem de Processos de Revisão de Pensão que encontramos durante a organização desse conjunto documental.

Em sua maioria, foram protocolados no ano de 1980 com a intenção de solicitar a revisão de um benefício previdenciário. Entretanto, parte das informações neles contidas, datam do início da segunda metade do século XX, momento no qual as ferrovias eram uma realidade no cenário dos transportes no RS.

Mapa Ferrovias

A história ferroviária iniciou no final do século XVIII e desenvolveu-se nas primeiras décadas do século XIX em um contexto de transformações ocasionadas pela Revolução Industrial. Em menos de um século, o transporte sobre os trilhos espalhou-se pelo mundo. Sinônimo de industrialização, tal expansão coexistiu com modificações nos cenários político, econômico, social e ideológico. No Brasil, a construção de linhas férreas datam da segunda metade do século XIX. Quem não lembra da figura do Barão de Mauá que inaugurou a primeira estrada de ferro no atual estado do Rio de Janeiro? E quantos de nós conhecemos Erno, Rufino, Loenço, Pedro e Salvador, vidas que construíram e que foram atravessadas pela história das ferrovias?

Sabe-se que depois da linha férrea construída pelo Barão de Mauá, centenas de metros de trilho foram construídos em todo o país. Dois foram os principais interesses na implantação de ferrovias: a integração do território nacional e a necessidade de melhorar as condições de transporte das principais mercadorias de exportação para os portos. No Rio Grande do Sul, a primeira ferrovia, construída por uma companhia inglesa, ligava as cidades de Porto Alegre e Novo Hamburgo e foi inaugurada em 14 de abril de 1874. Daí por diante, várias outras linhas foram construídas. No artigo escrito por Cristiane e Luís Fernando podemos perceber as disputas existentes no processo de construção das ferrovias que opunham, de um lado, os interesses dos latifundiários pecuaristas e, de outro, uma elite que se formava nas novas colônias localizadas aos arredores de Porto Alegre.

A partir de 1905, as ferrovias do Rio Grande do Sul foram unificadas sob o nome de Viação Férrea do RS (VFRGS) e entregue à administração de uma companhia belga. Em 1920, a VFRGS foi encampada e passou a ser uma empresa estatal. Em 1957 foi incorporada à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) que transformou a VFRGS em uma divisão. Na sequência, como empiricamente podemos avaliar, as ferrovias cederam lugar ao asfalto e passaram o habitar a memória daqueles que com elas conviveram e os espaços que hoje, também como espaços de memória, contam suas histórias.

Qual a relação dessa história toda com o acervo da Secretária de Justiça? De que forma processos de revisão de pensão estão ligados à história das ferrovias? Por que Erno, Rufino, Loenço, Pedro e Salvador foram citados no texto?

Processo

Todos esses homens foram funcionários da Rede Ferroviária Federal (RFFSA/VFRGS) e morreram em acidentes de trabalho, motivo pelo qual seus nomes encontram-se em processos de solicitação de revisão de pensão, requeridos por suas companheiras. O que sabemos deles?

(A)Erno, ao 38 anos de idade, sofreu um acidente em 1972, quando dirigia o Auto da Linha AL-14, no trajeto de Santa Maria à Cacequi, que colidiu com outro trem que vinha no sentido contrário. Conforme a conclusão da sindicância, que consta como anexo ao processo, o motorista teria adormecido e isso teria provocado o acidente. Nela também há a informação de excesso de horas de trabalho acumuladas por Erno. (B)Rufino faleceu, em dezembro de 1968, no momento em que exercia a função de guarda-freios de um trem que foi soterrado pelas pedras de um silo existente nas obras do Tronco Sul, na localidade de Paverana. (C)Leonço, sub-capataz do Trem de Lenha nº 11, foi vítima fatal de um acidente de trabalho no ano de 1956, quando o vagão-dormitório no qual viajava, de Canela para Taquara, tombou em decorrência de uma barreira caída por conta da forte chuva que ocorria no momento. (D)Já o ajudante de foguerista, Pedro, que trabalhava no Depósito de Ramiz Galvão, sofreu um terrível acidente em maio de 1959, quando o trem LCG-6 descarrilou e na sequência tombou. Com o golpe, Pedro foi prensado entre a fornalha e o material jogado de encontro a ele. Em estado de choque e gravemente queimado, foi retirado do local e encaminhado ao Hospital General Câmara, local onde faleceu alguns dias depois. (E)Por fim, Salvador, servidor público que exercia a função de guarda-freios, quando em março de 1959, após a chegada do Trem P-31 em Uruguaiana, não foi localizado no trem. Após serem efetuadas as buscas necessária, foi descoberto seu corpo debaixo da ponte do km-362. De acordo com a Comissão de Sindicância, a hipótese plausível é de que Salvador, ao colocar a cabeça para fora da composição, tenha sido atingido pela referida ponte.

Essas são algumas das informações registradas nos Processos de Revisão de Pensão, que compõem o Acervo da Secretária da Justiça, que podem nos levar às histórias das ferrovias, se pensarmos que não apenas Barões foram sujeitos no período em que as estradas de ferro passaram a compor o cenário de modernização do Brasil. Como todas as fontes, esses processos podem ser lidos como fios, que tecidos são capazes de formar uma teia, nesse caso, de conhecimento a cerca das relações sociais travadas em torno da construção e do funcionamento das ferrovias aqui no Rio Grande do Sul.

*Acervo em tratamento técnico.

Acervo da Justiça e Pesquisa Histórica I

Deixe um comentário

Em 2014, uma equipe coordenada pela Arquivista Viviane Portella, com a participação da Historiadora Nôva Brando, iniciou os trabalhos previstos no Projeto de Organização dos Acervos da Secretaria do Interior e Exterior (1891-1947), da Secretaria do Interior e Justiça (1947-1975) e da Secretaria da Justiça (1975-1991)*.

Esses acervos foram recolhidos ao Arquivo Público do RS antes da promulgação da Instrução Normativa n° 04/09 que estabeleceu os procedimentos para o recolhimento de acervos arquivísticos no âmbito da administração direta do Poder Executivo Estadual. Disso resultou a custódia de um acervo ainda não organizado. O Projeto de Organização desses acervos foi elaborado, portanto, com o objetivo de “assegurar a proteção da documentação arquivística do Poder Público Estadual” (Decreto n° 47.020/10). Para isso, o projeto previu a execução das seguintes etapas: (a) classificação, avaliação e ordenação do acervo – atividades em etapa de finalização; (b) indexação do acervo permanente no sistema Administração de Arquivos Públicos – AAP; e (c) Difusão do Acervo Permanente.

Para um primeiro momento, a equipe optou por trabalhar com o acervo da Secretaria da Justiça, composto aproximadamente por 123 caixas. Decidiu também que a difusão do acervo ocorreria simultaneamente ao processo de classificação e avaliação, antes mesmo de sua indexação no AAP. Isso ocorrerá por meio de quatro postagens bimestrais no Blog do APERS nos meses de maio, julho, setembro e novembro. Para saber mais, acesse o Relatório 2014 – Organização dos Acervos das Secretarias da Justiça aqui.

Para a elaboração das postagens, foram selecionados conjuntos de documentos cujo potencial de pesquisa saltou aos olhos dos envolvidos no projeto. E para essa primeira postagem, selecionamos processos de solicitação de utilidades pública e prestação de contas (relatório) de entidades que já haviam sido decretadas como de utilidade pública.

Dentre eles, encontramos um Relatório de Balanço, de 1975, das atividades da Sociedade Caritativo São José, que já possuía o título de utilidade pública. Associação civil, de caráter filantrópico e beneficente, foi fundada na cidade de Garibaldi no ano de 1904. Na década de setenta sua sede e foro estavam localizados na cidade de Caxias do Sul e estava registrada no Conselho Nacional de Serviço Social e possuía declaração de utilidade pública no âmbito federal, estadual e municipal. Conforme consta no estatuto da entidade, anexo ao processo, suas finalidades eram: promover a educação e assistência social; fundar e manter estabelecimentos de ensino, assistência social e hospitalar; incumbir-se da direção de colégios, asilos, creches, patronatos, hospitais, dispensários; cooperar na formação e na manutenção de obras de educação, hospitalares e de assistência social; fundar associações, de que participe, para alcançar os mesmos fins; mantendo para tanto uma percentagem mínima de quinze por cento de suas receitas em gratuidades a alunos, ou auxílio a pessoas carentes de recursos e na formação e especialização de professores ou enfermeiras sem distinção de cor, nacionalidade, raça, credo religioso, ideologia política ou condição social. Na declaração de seu patrimônio, constavam as seguintes informações: Casa Provincial São José (Caxias do Sul); Escola Normal São José (Caxias do Sul); Hospital Nossa Senhora da Saúde (Caxias do Sul); Colégio São José (Pelotas); Colégio São José (Garibaldi); Ginásio São José (Antonio Prado); Ambulatório São José (Pinto Bandeira); Escola São José (Flores da Cunha); Escola Santa Inês (Garibaldi); Casa Provincial São José (Lagoa Vermelha); Colégio São José (Vacaria); Hospital Nossa Senhora da Oliveira (Vacaria); Escola Santa Teresinha (Sananduva); Hospital São Francisco (Concórdia). O processo, formado por um total de 588 páginas, traz informações a respeito de cada uma das instituições que compõem a Sociedade. Para cada uma delas, muitas fotos, documentação organizacional interna, documentações sobre despesas e receitas e as atividades desenvolvidas ao longo do ano.

Localizamos também um processo de Solicitação de Declaração de Utilidade Pública, do ano de 1978, da Fundação de Educação e Cultura Sport Club Internacional. Para fundamentar a solicitação, foram anexados documentos, o histórico da instituição, as atividades que por ela estavam sendo desenvolvidas. Possuía como principal atividade a Biblioteca Zeferino Brasil, que conforme a documentação, contava com um acervo de 40 mil volumes, classificados e catalogados, acessível ao público indistintamente. Localizada no parque esportivo do Sport Club Internacional, atendia, principalmente, a zona sul da capital. No momento da solicitação, tinham como propósito reeditar todas as obras de Zeferino Brazil, além da construção de um auditório e da criação de um museu histórico. Apenso ao processo, encontramos Atestado da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; Certidão do Cartório Especial e Estatutos da FECI; Ata do Conselho de Administração da FECI; Atestado de Gratuidade de Cargo; Certificado do Conselho Estadual de Cultura, Regimento Interno da Biblioteca Zeferino Brazil; Movimento de consultas; doações de livros pela FECI; crônicas e notícias sobre a biblioteca; fotos da biblioteca e da oficina de encadernação; registros das novas instalações da biblioteca; conferências, lançamentos de livros editados e visitas; projeto do museu histórico.

Assim como no primeiro caso, também identificamos o Processo de Utilidade Pública – Relatório e Balanço – da Sociedade Caritativo São José enviado à Secretária de Justiça no ano de 1979. Localizada em Porto Alegre, a Sociedade São José foi criada por desmembramento da Sociedade Caritativo-Literária São José de Caxias do Sul. Com as mesmas finalidades registradas, identificamos a informação de que era mantenedora de seis escolas, dentre elas o Colégio Sevigne em Porto Alegre, além de um hospital em Veranópolis. Encontramos diversas outras informações no relatório composto por 320 páginas de documentos, dentre eles, muitas fotografias. Também mantenedora de uma escola bastante tradicional do estado, o Colégio Farroupilha, encontramos a documentação, recebida pela Secretaria no ano de 1981, da Associação Beneficente e Educacional de 1858. Fundada nesse ano por um grupo de alemães emigrados, teve como finalidade inicial prestar assistência social moral e econômica aos integrantes recém-chegados. Em 1883 iniciou suas atividades no campo da educação (ensino), sem finalidade econômica.

Por fim, deslocando um pouco da cultura e da educação para a área da saúde, localizamos um Relatório de Utilidade Pública do Hospital Moinhos de Vento protocolado na Secretaria no ano de 1980, referente as atividades do ano anterior. Nele encontramos informações sobre construção do ambulatório, sobre a escola de 2º grau e os cursos técnicos que eram oferecidos, atividades científicas, treinamento e aperfeiçoamento, aquisição de máquinas, equipamentos e aparelhos, balanço de resultados.

Esses foram apenas alguns exemplos dos vários processos que dizem respeito à concessão da Declaração de Utilidade Pública, que compõem o Acervo da Secretaria da Justiça. Manuseando a documentação, composta por diversas tipos e formatos de registros, podemos perceber o forte potencial que possui para pesquisas tais como a educação (projetos pedagógicos, organização escolar, currículo) relação público-privado na oferta de serviços e garantias de direitos à população (filantropia, isenções fiscais, gratuidades, bolsas) no decorrer das últimas décadas.

Essa é apenas uma pequena amostra do potencial de uma parcela de toda a documentação que compõe o Acervo da Secretária da Justiça. Em julho, mais novidades por aqui.

*Acervo em tratamento técnico.

Divulga APERS – Diretrizes 2015

3 Comentários

2015.01.07 Divulga APERS – Diretrizes 2015Hoje divulgamos as diretrizes gerais de nossas mídias virtuais e artigos periódicos que pretendemos publicar aqui no blog ao longo deste ano! Ressaltamos que o Governo do Estado do RS está em fase de organização administrativa e ainda não temos a definição sobre a diretoria do Arquivo Público do RS, então a programação está sujeita a alterações.

Para o blog institucional:

A partir de março, na primeira semana de cada mês, teremos a publicação da resenha do filme que será exibido no projeto “Cinema no Arquivo” e será de responsabilidade do técnico em assuntos culturais Claus Farina.

Na segunda semana, a partir do mês de fevereiro, nossa técnica em assuntos culturais Clarissa Alves continuará a publicar seus artigos na categoria “Mulheres no APERS”, nos instigando ao debate sobre a temática tendo como ponto de partida o catálogo seletivo resultante do projeto “Afinal, onde estão as mulheres no APERS? Gênero, memória e história”.

Também na segunda semana, bimensalmente, a partir de maio, a técnica em assuntos culturais Nôva Brando publicará artigos com base nos processos administrativos do fundo Secretaria da Justiça que está em fase de tratamento técnico.

Na terceira semana de cada mês, a partir de março, as técnicas em assuntos culturais Clarissa Alves e Nôva Brando publicarão artigos que versarão sobre as experiências de ações educativas em instituições arquivísticas.

Também na terceira semana de cada mês, a partir de março, as técnicas em assuntos culturais Angelita Silva e Roberta Scholz publicarão artigos sobre documentos “interessantes” que compõem o nosso acervo do Poder Judiciário.

Na quarta semana de cada mês, a partir de fevereiro, a técnica em assuntos culturais Clarissa Alves publicará na categoria “AfricaNoArquivo” sobre questões da história afro-brasileira.

Na última semana dos meses de abril, maio, junho, agosto, setembro e outubro a técnica em assuntos culturais Nôva Brando publicara novas propostas do projeto “APERS? Presente, professor!” tendo por temática direitos humanos.

Na página no Facebook publicaremos chamadas para artigos publicados em anos anteriores em nossos blogs, institucional e temático, nas segundas, terças, quintas e sextas-feiras, e claro, às quartas-feiras continuaremos a fazer as chamadas das publicações semanais! Assim, nas segundas-feiras faremos chamadas para artigos publicados em nosso blog temático Resistência em Arquivo, nas terças-feiras chamadas para artigos publicados em 2014 nas categorias Arquivos & Conceitos, Arquivos & Diversidade Étnica, Arquivos & Genealogia, Mulheres no APERS e SIARQ/RS, nas quintas-feiras destacaremos artigos publicados na Mostra de Pesquisa do APERS que tiveram como fontes documentos custodiados por nossa instituição, e nas sextas-feiras publicaremos chamadas para as dicas da categoria Mundos dos Arquivos publicadas na temporada de 2012.

Quanto ao Twitter continuaremos a postar, de segunda a sexta-feira, dicas que envolvam a área de atuação do APERS, além das chamadas para os conteúdos publicados em nosso blog institucional e replicações das postagens do Facebook. Uma novidade é a alteração de nosso “nome de usuário” o qual mudará de @APERS_SARH para @ArquivoRS, tendo em vista a Lei nº 14.672, de 01 de janeiro de 2015, que altera o nome de nossa Secretaria.

Para 2015 desejamos que você continue a nos acompanhar pelas mídias, mas claro, também queremos sua presença em nossa Sala de Pesquisa, eventos e demais atividades que realizamos visando sua participação e interação!