Ação Educativa e Consciência Negra no APERS #NovembroNegro

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Damos sequência às nossas postagens que ficaram pendentes em relação ao ano de 2019, iniciando pelo último texto da série em celebração ao #NovembroNegro.

Desde 2009 o Programa de Educação Patrimonial UFRGS-APERS oferece, entre outras, a oficina Os Tesouros da Família Arquivo, construída a partir de diferentes tipos documentais produzidos no contexto da escravidão no Brasil e salvaguardados por nossa instituição. A oficina busca nomear e reconhecer a ação de mulheres e homens a quem o cativeiro foi imposto, mas que resistiram de formas diversas e lutaram por liberdade. A partir de um testamento e um processo-crime, alguns inventários, registros de compra e venda e cartas de liberdade, entramos em contato a história de Maria, senhora de “mais ou menos 90 anos” que foi capturada na região do Congo no final do século XVIII; com o Pancho, menino uruguaio de 12 anos que nasceu livre mas foi sequestrado na banda oriental e vendido ilegalmente como escravo em uma colônia de imigrantes; com a Jacinta e o Vicente, pais do Fortunato, uma família sendo tratada como bens. Falamos de possibilidades de trabalho e sociabilidade em grandes plantéis rurais ou em pequenas manufaturas urbanas, da formação de famílias, de formas diversas de resistência.

A seguir compartilhamos pequenos vídeos gravados por estudantes da EMEF Nossa Senhora de Fátima (bairro Bom Jesus/Porto Alegre) comentando sua participação na referida oficina. Eles estiveram conosco no dia 12 de novembro, trazidos pelo professor Bruno Xavier Silveira:

 

 

 

Essa ação, pensada em 2008 com inspiração no trabalho de descrição arquivística que deu origem aos Catálogos de Documentos da Escravidão, transformou-se em uma importante atividade de difusão do acervo e de ação educativa que, por sua vez, inspirou o desenvolvimento do projeto “AfricaNoArquivo: fontes de pesquisa & debates para a igualdade étnico-racial no Brasil”. A partir desse último, com recursos captados em edital do IBRAM, distribuímos caixas pedagógicas como doação para escolas levando um pouco de nosso acervo para dentro das salas de aula, promovendo discussões a respeito das conexões entre África e Brasil a partir da diáspora e sobre as marcas da escravização em nossa sociedade. Aqui, compartilhamos alguns registros de estudantes utilizando a caixa AfricaNoArquivo na EMEF Osório Ramos Correa, de Gravataí, sob orientação da professora Jane Rocha de Mattos, e na EEEF Imperatriz Leopoldina, de Porto Alegre, com a professora Isadora Librenza:

Oficina e caixa pedagógica, entre outras diversas atividades como cursos e eventos promovidos pelo Arquivo Público com essa temática, são afirmações de nosso potencial enquanto lugar de memória negra, enquanto lugar que se presta à produção de conhecimento engajado no combate às desigualdades e ao racismo.

Para informações sobre as ações educativas desenvolvidas pelo APERS, entrar em contato pelo e-mail acaoeducativa@planejamento.rs.gov.br.

Especial Projeto Documentos da Escravidão – Processos Criminais #NovembroNegro

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Embora novembro de 2019 já tenha passado, ao retomar as postagens inicialmente previstas para aquele mês reafirmamos a importância do #NovembroNegro!

Catálogo Processos CrimeOs processos criminais são uma fonte poderosíssima para o estudo da história, porque eles frequentemente trazem, ainda que em depoimentos sob a mediação da pena de escrivães e sob pressão de circunstâncias legais adversas, as palavras de atores sociais escravizados, o que é muito difícil de obter de outras formas. Ademais, é possível transparecer diversos episódios cotidianos que não receberiam registro se não fossem investigadas minuciosamente as condições do fato delituoso. Finalmente, podem se tornar perceptíveis as táticas adotadas para se livrar de acusações, proteger os seus, incriminar ou resistir aos seus senhores, obter a liberdade, enfim, a atuação prática dos escravizados, na defesa de seus interesses, em face de um sistema sociojurídico evidentemente desfavorável.

Chegando ao último post da série especial sobre o Projeto Documentos da Escravidão, que deu origem a 10 volumes de Catálogos que facilitam o acesso aos documentos relacionados ao contexto da escravização, hoje destacamos o volume dedicado aos processos criminais, que pode ser acessado clicando aqui.

 

“Descobrindo o Acervo do Arquivo Público: Repressão à Umbanda na Cidade Baixa de 1940” agora é exposição virtual! #NovembroNegro

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Cartaz abertura Exp Virtual

Para marcar o mês da Consciência Negra no APERS trouxemos para o blog a edição de novembro do projeto Descobrindo o Acervo do Arquivo Público com a exposição “Repressão à Umbanda na Cidade Baixa de 1940“, que foi apresentada fisicamente no Espaço Cultural Joel Abílio Pinto dos Santos entre os dias 05 e 14/11, e agora transforma-se em uma exposição virtual.

Selecionamos em nosso acervo o processo criminal contra Laudelino Manoel de Souza Gomes, oficial reformado da Marinha brasileira e líder de duas casas de umbanda em Porto Alegre – nas ruas Lima e Silva e Lobo da Costa. Laudelino foi denunciado, em 28 de janeiro de 1943, por prescrever homeopatia e dar passes, diagnosticar moléstias e exercer ilegalmente a farmácia. Foi acusado de enriquecer ilicitamente a partir do ofício de curandeiro. Sua fé era indicada como “mixto de catolicismo e cultos africanos”.

Em seu depoimento o réu afirma que liderara um templo em São Luiz, no Maranhão, e que era professor de física, português, aritmética e inglês. Sustenta que o atendimento prestado era gratuito e que sua casa praticava a caridade. A peça apresentada em sua defesa apelava à liberdade religiosa e à legitimidade da umbanda como confissão, alegando a antiguidade de sua prática no Brasil.

Ele foi condenado a seis meses de detenção, mas apelou da sentença e pagou Cr$ 1.000,00 como fiança para responder em liberdade. Ao fim das contas, no dia 3 de dezembro de 1943, foi suspensa a execução de sua pena.

imagem blog laudelino

Detalhe de fotografia à folha 43: altar no Abrigo Francisco de Assis

O Estado brasileiro frequentemente perseguiu as religiões afro-brasileiras sob diversas alegações. Para refletir a respeito, trazemos um processo-crime como fonte primária para análise e discussão sobre seu conteúdo: explicita-se que o objetivo era mesmo denunciar o exercício ilegal de determinada profissão, ou verificamos que há outros olhares incidindo sobre a acusação pelo local ser uma casa onde a religião Umbanda se fazia presente? O incentivo a que se lancem novas abordagens aos documentos salvaguardados pelo APERS estende-se às relações sócio-cultural travadas em nosso cotidiano, muitas vezes amparadas em preconceitos historicamente construídos que repercutem em nossa atual sociedade.

 

A sequência de imagens a seguir é uma seleção de 23 páginas do processo:

 

Para acessar o documento digitalizado na íntegra, clique aqui.

 

2019.11.05 Laudelino - local

Localização da casa de Laudelino Manoel de Souza Gomes

 

Ficha técnica:

  • Pesquisa documental e textos: Rodrigo de Azevedo Weimer
  • Concepção e montagem: Iara Gomide e Marta Helena Araújo
  • Arte: Luís Otávio Martins
  • Colaboração à exposição virtual: Clarissa Sommer e Juliano Balbon

Dia 25/11 é dia de debater “Moradia popular: a cidade em disputa no pós-Abolição”

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Nesse Novembro Negro, o Arquivo Público promove, em parceria com o GT Emancipações e pós-Abolição da ANPUH-RS e com o Coletivo Quilombonja, o seminário “Moradia popular: a cidade em disputa no pós-Abolição“, que ocorrerá em nosso auditório no dia 25 de novembro, entre 09h e 18h.

2019.11.20 evento quilombonja2

Você já reparou na impactante arte do material? Ela foi produzida pelos estudantes José da Silva Martins e Taylor Felipe dos Santos, respectivamente do 7º e do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, localizada no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre/RS. Nessa Escola nasceu o Coletivo Quilombonja, coordenado pelo professor Bruno Xavier Silveira, da Geografia.

Provocados a pensar sobre o tema do evento, Taylor e José colocam no papel os processos de segregação e luta por moradia vividos em nossa cidade. Perguntamos o que eles quiseram representar com o desenho. Nas palavras de Taylor,

[A imagem] significa uma… como é que eu posso te dizer, uma disputa de poder. Uma territorialidade. Uma disputa entre nós, que somos pobres, e os ricos – os brancos que são os ricos. Como nós moramos mais em comunidade, nós somos mais da favela, nós somos pobres. E os ricos são os que moram em apartamentos, chiques, essas coisas, têm piscina, têm casa boa. Tudo isso. Muitos deles não trabalham, nós temos que trabalhar para ter nossas coisas, e temos que lutar para conquistar nossas coisas. Então isso quer dizer que todo mundo tem que ter os direitos iguais, porque que nem muitos de nós aqui, negros que trabalhamos quase um mês inteiro pra ganhar metade de um salário no final do mês. Isso não é justo. E isso não faz a gente diferente dos brancos, porque nós temos que ganhar a mesma quantidade que eles ganham, porque nós trabalhamos da mesma forma que eles trabalham. Às vezes a gente até trabalha mais que eles, e eles ganham mais do que nós. E muitos deles ganham sentados. Eu quero dizer que é uma territorialidade, e é uma disputa de poder. Então, o personagem ali do meio, ele está cortando porque isto é injusto, todo mundo tem que ter direitos iguais.

José explica que “o desenho é uma representação da desigualdade social e esses negócios, tipo, a favela de um lado, e a cidade de gente rica do outro lado, dai o homem branco divide ali, com uma tesoura”. Argumenta que a segregação das populações se dá muitas vezes pelo argumento de que na favela tem muita violência, como os tiroteios, e que meninos pretos, moradores de favela como ele, não poderiam pisar nas “zonas de rico”. Mas finaliza apostando nos “bons estudos” como um caminho para ter oportunidades e romper com esse ciclo.

Vamos debater sobre o tema? O evento é gratuito e não necessita inscrição prévia. Participe!

Conservação do documento mais antigo do APERS: a Carta de Liberdade da negra Inácia Maria preservada há 256 anos #NovembroNegro

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Inácia Maria do Espírito Santo, de cor parda, escrava do Senhor Antônio Gonçalves Padilha, teve sua liberdade concedida na Freguesia da Capela de Viamão em 17 de junho de 1763 pelo Senhor Antônio Gonçalves Padilha, de quem foi propriedade, por conta dos bons serviços prestados e pela fidelidade. Essas são as informações registradas no documento mais antigo salvaguardado no APERS, um registro do ano de 1763 da Câmara da Capitania do Rio Grande de São Pedro (livro 1, 1763-1766, p.2).

Imagem 1

As cartas de liberdade que compõem o acervo da Câmara da Capitania do Rio Grande de São Pedro e dos Tabelionatos de Porto Alegre foram arroladas pelos historiadores Paulo Roberto Staudt Moreira e Tatiana de Souza Tassonie em um trabalho minucioso de pesquisa e de descrição documental. O resultado dele foi a publicação de Quem com seu trabalho nos sustenta – As Cartas de Alforria de Porto Alegre (1748-1888), livro lançado pela editora EST Edições em 2007. Desde lá, a obra se transformou em um dos instrumentos para pesquisa das 10.055 alforrias registradas em 361 livros cartoriais de Porto Alegre, entre os anos de 1763 e 1888 – cabe lembrar que ao mesmo tempo em que o levantamento documental das cartas de liberdade dos tabelionatos de Porto Alegre era realizado pelos autores, também estava em curso a construção, pelo APERS, do Projeto Documentos da Escravidão, que lançou dois catálogos com a descrição de alforrias registradas nos tabelionatos de cidades do interior do estado do RS, assunto tratado na entrevista com Jovani Scherer, que está sendo publicada nesse novembro e pode ser lida aqui.

Agora te convidamos a observar as imagens que fizemos da carta de alforria e também do livro ao qual ela pertence. Percebe que parte da folha da alforria e de outras páginas foram atacadas por agentes biológicos? Consegue identificar a presença de material estranho ao documento? Sim!

Então, o papel no qual foi inscrito uma passagem importante da vida da negra Inácia Maria, a conquista de sua liberdade, da condição de propriedade de si mesma como cabia ao contexto histórico de um Brasil escravista, após avaliação quanto ao estado de conservação, passou por dois procedimentos. O primeiro deles foi a recuperação do suporte, que ocorreu antes mesmo do conteúdo das cartas ser descrito nos projetos acima mencionados. Para tanto, o livro 1 do 1° Tabelionato foi todo desmontado e reconstruído parte por parte. Cada uma das 148 folhas foi recuperada por meio de velatura, técnica que utiliza papel japonês por toda a extensão do documento, a fim de estabilizar o processo de deterioração, nesse caso causada por agentes químicos, físicos e também biológicos, e reforçar o suporte. Para cada uma das folhas também foi construída uma lombada para que os documentos fossem costurados na etapa de montagem do livro, que também recebeu uma nova capa confeccionada pela equipe de encadernação com a qual a instituição contou durante muitos anos. E apesar da perda de conteúdo em muitas páginas, desde a intervenção no material, podemos considerar que hoje o livro encontra-se em estado de conservação bastante estável. O que para nós é o mais importante: preservar o suporte e as informações dos documentos para que possam ser consultados por muitas décadas, diríamos séculos – lembremos, já se passaram 256 anos desde a transação cartorial entre Inácia e Antônio.

Outra medida adotada pelo APERS para a preservação dos registros de alforria foi a digitalização e a disponibilização de suas imagens. Com apoio da Associação de Amigos do Arquivo Público e com o patrocínio do Ministério da Cultura|Petrobrás, o Projeto Documentos da Escravidão – Preservação das Cartas de Liberdade permitiu a disponibilização da imagem de 30 mil alforrias (1763-1888) pelo site do Arquivo.

Preservação cartas de liberdade

Como resultado do projeto, o pesquisador já pode acessar ao conteúdo dos documentos sem que seja obrigatório seu manuseio e à imagem sem que sejam necessários registros fotográficos individuais e sucessivos. Veja aqui como realizar a pesquisa online.

E em mais um 20 de novembro, data de comemorar as consciências, as resistências, as lutas históricas e as lutas cotidianas – as coletivas e as individuais – dos negros africanos, afro-brasileiros e brasileiros, temos a certeza de que preservar a Carta de Liberdade de Inácia não é somente uma obrigação do APERS, é sim um privilégio. Viva Zumbi dos Palmares! Viva Inácia Maria do Espírito Santo!

* Os Catálogos que serviram de referência para este texto são hoje abordados nessa outra notícia: Especial Projeto Documentos da Escravidão – Alforrias e Registros de Compra e Venda #NovembroNegro

** Atualizado em: 26/11/2019

Especial Projeto Documentos da Escravidão – Alforrias e Registros de Compra e Venda #NovembroNegro

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2019.11.20 cartas e compra e venda imagem 2 Foto Joana Berwanger Sul21

Detalhe do acervo de Tabelionatos. Prédio 1 do APERS. Foto: Joana Berwanger / Sul21

Damos sequência ao nosso especial de divulgação do Projeto Documentos da Escravidão, hoje direcionando o olhar às alforrias e registros de compra e venda. Ambos são tipos documentais que fazem parte do acervo de Cartórios e Tabelionatos do Arquivo Público do RS e que foram descritos, item a item, em verbetes que compõem catálogos publicados no âmbito desse projeto.

Como forma de descobrir as tensões entre estruturas sociais e ações subjetivas, os estudos históricos têm explorado cada vez mais as trajetórias individuais e coletivas. As escrituras de compra e venda de cativos, assim como as cartas de liberdade registradas nos cartórios de Porto Alegre e do interior do Rio Grande do Sul permitem acompanhar as pessoas escravizadas, percebendo seu trânsito entre diversos senhores ou a aquisição da alforria por meio de diversos dispositivos de negociação e resistência cotidiana que explicitam sua agência como sujeitos. Isso pode ser muito significativo, porque, como frequentemente se assumia o sobrenome senhorial na vida em liberdade, identificar de quem se havia sido escravizado pode ser de importância fundamental para descobrir os rumos tomados na vida em liberdade, por meio do acompanhamento do nome e sobrenome adquiridos.

Por outro lado, ainda há a possibilidade de estudar, a partir desses documentos, as flutuações do mercado de escravizados, especialmente em função da legislação antiescravista, trabalho que está por ser realizado, e de obter, por meio de metodologia serial e quantitativa, um panorama das modalidades de libertações ao longo das décadas, como, por exemplo, procede o historiador Paulo Staudt Moreira em seus trabalhos , discutindo a presença de alforrias gratuitas, compradas ou condicionadas à prestação de serviços, essas últimas em número crescente durante os últimos anos da escravidão.

Importante também é destacar a dimensão afirmativa de reconhecimento da humanidade, para além e nas entrelinhas da dureza documental que os reduzia a “mercadorias”, e das lutas dessas mulheres e homens por meio do acesso aos registros sobre suas vidas. Isso tem nos motivado a incentivar os usos desses documentos em processos de ensino-aprendizagem e de sensibilização que vão além da pesquisa acadêmica nas ciências humanas de modo geral. Emociona-nos, por exemplo, ver estudantes da Educação Básica manuseando-os em oficina, assim como líderes de quilombos urbanos e de pontos de cultura negra frequentando nossa Sala de Pesquisa para acessá-los em busca de vestígios sobre suas origens.

Acesse os catálogos que descrevem os tipos documentais em questão:

Importante: As alforrias de Porto Alegre encontram-se resumidas em MOREIRA, Paulo Roberto Staudt & TASSONI, Tatiani. Que com seu trabalho nos sustenta: as cartas de alforria de Porto Alegre (1748 – 1888). Porto Alegre: EST Edições, 2007.

Especial Projeto Documentos da Escravidão – Inventários e Testamentos #NovembroNegro

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Na semana anterior informamos que o novembro negro no APERS traria o Projeto Documentos da Escravidão em destaque às nossas mídias. Iniciamos por dois tipos documentais bastante visitados pelos pesquisadores e pesquisadoras em nossa sala de consulta!

Os inventários consistem em relações dos bens de um falecido, inclusive os trabalhadores escravizados, com fins da sua repartição entre os herdeiros. Os testamentos são as disposições finais do moribundo, dando destinação a parte de sua fortuna e recomendando procedimentos fúnebres.

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Evento de lançamento dos Catálogos de Documentos da Escravidão, 2010.

Enquanto os testamentos permitem uma aproximação ao universo de crenças e religiosidade, sobretudo às atitudes perante a morte, os inventários vêm sendo utilizados como via de acesso à história econômica, já que trazem um instantâneo das atividades produtivas em dado momento.

A historiografia tem se beneficiado dos catálogos de inventários produzidos a partir do Projeto Documentos da Escravidão, uma vez que eles trazem a relação de cativos nos inventários, assim como evidenciam a presença negra com herança, permitindo perceber, em dada localidade ou comarca, a concentração da propriedade escrava e outros indicadores relacionados ao processo de escravização, como a difusão de famílias legalmente constituídas, sua pirâmide etária, os locais de nascimento ou grupos de procedência, as profissões desempenhadas, a presença de moléstias, o valor monetário médio de estimativa (atribuído pelo avaliador à pessoa escravizada), etc.

Seja como um guia para manuseio dos documentos em si, seja por possibilitar uma visão panorâmica de um conjunto documental maior, os catálogos nos permitem ter uma ideia mais rica da história dos negros e negras escravizados(as) no Rio Grande do Sul nos séculos XVIII e XIX. Acesse tais instrumentos de pesquisa clicando nos links a seguir:

Exposição Descobrindo o Acervo do Arquivo Público: Repressão à Umbanda na Cidade Baixa de 1940 #NovembroNegro

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Neste mês, dando continuidade ao projeto exposição “Descobrindo o Acervo do Arquivo Público”, no intuito de revelar vestígios comprobatórios de ações, paixões e concepções deixadas pelos sujeitos históricos em documentos, selecionamos em nosso acervo o Processo de Laudelino Manoel de Souza Gomes, líder da casa de Umbanda localizada no Bairro Cidade Baixa em Porto Alegre, sendo denunciado por prescrever homeopatia e dar passes, diagnosticar moléstias e exercer ilegalmente a farmácia.

O Estado brasileiro frequentemente perseguiu as religiões afro-brasileiras sob diversas alegações. Para a marcação do #NovembroNegro, dentre outros acontecimentos que ocorrerão no APERS (veja aqui), selecionamos o processo em questão para a análise e discussão sobre o conteúdo do processo – neste caso, se o mesmo tinha o objetivo de denunciar o exercício ilegal da profissão, ou verificamos que há outros olhares sobre o local ser uma casa onde a religião Umbanda se fazia presente?! Nessa perspectiva, convidamos a comunidade para repensar e quem sabe, lançar um novo viés aos documentos armazenados no APERS e às opiniões muitas vezes equivocadas e o que elas repercutem em nossa atual sociedade.

2019.11.07 Descobrindo o Acervo Novembro

APERS no mês da Consciência Negra #NovembroNegro

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2019.11.06 APERS Consciência Negra

Embora partilhemos da compreensão de que é importante que as instituições arquivísticas organizem seus acervos globalmente, permitindo à comunidade acessar informações diversas, independente do tema de pesquisa ou do direito que se pretende acessar, acreditamos, também, na centralidade de tais instituições assumirem uma postura ativa frente aos temas sensíveis que marcam nossa sociedade, postulando espaços de defesa dos direitos humanos, de enfrentamento ao racismo, ao machismo, à lgbtfobia. Afinal, a gestão de documentos, o acesso à informação, assim como a diversidade que marca o patrimônio documental estão no cerne da construção de uma sociedade plural e democrática.

Nessa perspectiva, ao longo das últimas décadas do APERS vem desenvolvendo projetos, realizando eventos e promovendo a difusão de seus acervos com especial atenção às relações étnico-raciais e à história negra do Rio Grande do Sul. Agora, adentrando o mês de novembro, que marca o Dia da Consciência Negra nacionalmente, propomos uma programação especial para nossas mídias, que resgata ações já empreendidas e fortalece a divulgação projetos nessa área.

Aqui no blog, a começar pela presente postagem, traremos conteúdos semanais que marquem a percepção do APERS como um lugar de memórias e de histórias negras. Falaremos de documentos e de seu tratamento, de eventos e exposições, de ações educativas e, em especial, do projeto Documentos da Escravidão. Ele originou dez volumes de catálogos seletivos que lançam luz sobre a presença de negras e negros em nosso acervo, e foi desenvolvido pela instituição ao longo de mais de uma década, de modo que seus impactos sobre as pesquisas em ciências humanas ainda estão por ser estudados.

Recentemente, em uma banca de um trabalho de pós-graduação, uma importante pesquisadora do centro do país perguntou ao candidato: “você pesquisou diretamente nos documentos ou utilizou os catálogos seletivos ‘Documentos da Escravidão’, publicados pelo Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul?” Diante da confirmação de que, de fato, estes foram consultados, ela afirmou: “ah, bom! Porque aqui vocês têm algo que não existe em nenhum outro lugar no país”. Essa pequena anedota demonstra a relevância historiográfica assumida pelo monumental trabalho de pesquisa e descrição documental realizada em nossa instituição nos primeiros anos do século XXI.

Ainda em relação ao blog, o 20 de novembro cairá em uma quarta-feira, dia tradicional de postagens por aqui, e será marcado pelo “Especial Consciência Negra no APERS”.

Nosso Facebook, como de costume, repercutirá tudo o que for veiculado em nosso blog, assim como colocará na vitrine a exposição do mês – organizada dentro do projeto “Descobrindo o Acervo do Arquivo Público” – e o evento que estamos organizando para os dias 25 e 26/11 – em breve mais informações. Nosso perfil será “consciência negra” a cada caractere!

Nosso Instagram trará para o mundo virtual a exposição física que ocupará, no APERS, a Sala Joel Abilio Pinto dos Santos, e também apresentará à comunidade os documentos sobre o contexto da escravização que são explorados com as turmas escolares que nos visitam para vivenciar a oficina “Tesouros da Família Arquivo”.

Já em nosso Twitter todos as postagens do mês serão relacionadas à temática. Desse modo, traremos a nossas seguidoras e seguidores a referência de trabalhos acadêmicos, de livros, de produções audiovisuais, entre outras reflexões relacionadas à área de arquivos que se conectem com a consciência negra.

Acompanhe nossas mídias e participes das atividades!